3. Em Roma sê lisboeta, em Lisboa sê romano
13. Em Roma sê lisboeta, em Lisboa sê romano
É bem possível que o título desta crónica se deva inteiramente ao sol que tenho apanhado na cabeça na última hora e meia à espera do autocarro 64 para o Vaticano. E que o que escrevo agora não passe de um delírio provocado pelo calor.
Mas, mesmo assim, aqui ficará o que penso agora aqui.
Como explico o título? Não há diferença entre um lisboeta e um romano até mesmo naquilo que à primeira vista se poderia pensar que houvesse: na língua. Ambos falam mal o latim, um, fala um latim que se chama italiano, o romano, o outro, o lisboeta, fala um latim que se chama português. Perceberam?
A partir daí, são igualzinhos como se fossem dois irmãos gémeos. São ambos doidamente ciosos de todo o poder pois são ambos imperiais, o romano, do Império Romano, o lisboeta, do Império Ultramarino. Aqui e ali, não haja dúvida que seja, está tudo concentrado num só centro.
Até no desmazelo são iguais. Vi logo, mal acordei no comboio, e olhei para fora do vidro e julguei que estava a chegar a Santa Apolónia e não a Roma. Vegetação espontânea igual: figueiras bravas, canas, giestas bravas e muita erva por aparar.
Trânsito? Igual. Os peões são tratados aqui como lá e por aí adiante.
Atentados ao património? Iguais.
É possível. Será do mal que o sol me fez ao juízo? Ou será que ainda vi pouco e estou a tomar a nuvem por Juno?
Talvez de ambos um pouco mas ainda assim talvez ainda tenha alguma razão ao aconselhar ser em Roma lisboeta e em Lisboa romano.
Somos vinho da mesma cartola desde o tempo do Império romano.
Roma, 9 de Julho de 2010
Mário Moura