Sentenças de almanaque
Estou lendo um livro raro, com mais de duzentos anos. Trata-se do Lunário Perpétuo, de Jeronymo Cortez. Este livro foi a Bíblia dos antigos escrevinhadores de almanaques, que são aquelas publicações destinadas ao homem do campo, contendo calendário, datas comemorativas, fases da lua, matérias científicas e recreativas, remédios populares, além de prognósticos da vida do sujeito conforme a data do nascimento. Essas informações fizeram a festa dos candidatos a astrólogos iguais a Madame Preciosa. A primeira edição do livro data de 1703, feita pela casa de Miguel Menescal, em Lisboa. Hoje o Lunário é uma preciosidade só encontrada nas bibliotecas dos estudiosos ou bibliófilos, mas é reeditado continuamente pela Editora Lello em Portugal. Durante cerca de duzentos anos, esse livro foi o mais lido no Nordeste Brasileiro, depois da Bíblia Sagrada. Tratava-se também da fonte onde iam beber conhecimento os poetas repentistas.
No começo do livro, o autor explica o que é o universo e seus elementos. Informa que o mundo foi criado no mês de setembro pelo simples fato de que Adão e Eva comeram a maçã madura, e a época da maturação da fruta é justamente no equinócio outonal. Jesus morreu na primavera, conforme o autor, na sexta-feira e na hora sexta, no décimo quinto dia da lua de março. Seguindo essa lógica cabalística, Jeronymo Cortez afirma que, do princípio do mundo até o nascimento de Cristo passaram-se 4.004 anos. É só acrescentar 2010 e teremos a idade exata do universo: 6.014 anos.
Consultando a tabela das idades do homem, fico sabendo que estou no final da idade da Virilidade que vai dos 40 aos 55 anos. A partir de outubro, entrarei na idade da Senectude ou Velhice, que vai dos 55 até o fim da vida. Essa fase pode se chamar também de Decrepitude.
Na parte dos horóscopos, descubro onde minha vidente Madame Preciosa foi encontrar detalhes do meu caráter a partir do signo de Escorpião. Conforme o Lunário Perpétuo, o homem nascido nessa época “é filho do Outono, com suas intemperanças e más influências”. Portanto, quem nasce debaixo desse signo “será de maus costumes, enganador, luxurioso e teimoso; pouco liso nos seus negócios e inclinado a furtar; e que será grave, amigável e de boas palavras, porém falsas; e finalmente andará por diversas terras, não será nem rico nem pobre, terá algumas enfermidades e morrerá aos setenta e um anos de vida”. Entretanto, se for do sexo feminino, será amigável, forte e terrível, mas viverá somente um ano a mais do que o Escorpião macho.
O livro apresenta uma lista biográfica dos papas da Igreja Católica, sempre atualizada, de São Pedro ao João Paulo II. Entre esses chefes da Igreja, destaca-se um tal de Vicente Joaquim Pecci, conhecido por Leão XIII. Releva-se, ao meu ver, pela contradição política e social do seu pontificado, que vai de 1878 a 1903, ano de sua morte. Inimigo feroz da Maçonaria, João XIII encorajou os católicos sociais, lançando em 15 de maio de 1891 a Encíclica Rerum Novarum, afirmando limites com relação ao direito de propriedade, defendendo a dignidade do operário e sua prerrogativa de se organizar em associações corporativas. No entanto, em 1888, lançou a Encíclica In Plurimis, contra a abolição da escravatura. Lembrando que foi neste ano que, no Brasil, a Princesa Isabel assinou a lei Áurea, extinguindo a escravidão no país.
www.fabiomozart.blogspot.com