ESPERANÇA
 
Estou pensando a esperança como palavra diferente.
De certo modo, sempre combati a “esperança”, que esperar e confiar em outra parte que não em si não leva à ação.

Mas na terça feira foi um dia surpreendente e estressante. Um dia em que, inesperadamente, tive a experiência do encontro e, imediatamente, seguido da ruptura. Feito uma visão de beleza ao ser concretizada, como um beijo na testa da filha perdida por mais de uma década, e o imediato ato-próprio de não mais querer, só acabar e se retrair para o oceano que vinha, mas refiz o caminho de volta para seu lugar de origem, o nada no meio do oceano sem fim.

Foi um natural beijo de mãe que encontra a filha sem tempo de nada pensar. 

Seguido de entender afinal, que simplesmente, era apenas um ódio ou aversão de filha por mãe não desejada.

Quando entendi, eu é que tomei a ação de não querer quando não se é querido: e eu deixei por mais não querer.
O instinto de sobrevivência foi companheiro amigo e me sustentou até sentar e abrigar-me num taxi, que mandei seguir.

Só então o “tsunami” que mergulhara comprimido para ignorado lugar, começou a subir do fundo de minhas reservas e se soltando pelo olhar através do vidro do carro, buscando interesse possível nas casas e calçadas que se seguiam, e o choro não pode ser reprimido e o soltei para salvar-me.
E foi bom, o “tsunami” se espraiou pelos olhos olhando o Rio lá fora. E foi passando.
 
Ao findar da noite, um e-mail insuspeitável: _ uma proposta em permitir encontros futuros.
O que perdi e que joguei fora também retorna em proposta de desculpa e aproximação futura, e me chama de Mãe.
 
Nisso comecei a perceber a esperança com outra cara.

A esperança pode ser uma doce promessa de vir a ser alguma coisa.