E AS ORQUÍDEAS, FALAM?

Cartola, um dos maiores poetas da música popular brasileira, já nos avisou, numa das suas mais lindas e conhecidas canções , que as rosas não falam.

Decerto que a poética intenção figurativa de Cartola era a de ir além da beleza material das rosas, a declarar e comparar o perfume do seu amor ao feitiço das ditas maravilhosas flores.

Alguma mulher-flor a inspirar profundamente a bela obra do artista.

E hoje é o marco da estação das flores, dia propício para que lancemos o olhar à natureza tão castigada deste presente e inconsequente século vinte e um , natureza que tão milagrosamente transcende toda a sua tragédia ecológica a nos presentear os olhos e os corações com a delicadeza poética de sua vasta biodiversisdade.

Foi caminhando pelas ruas de São Paulo e de súbito tropeçando numa exposição de orquídeas a céu aberto, que me veio a inspiração do presente texto, posto que é impossível não se impressionar com o capricho, delicadeza e detalhes que a natureza coloca na explosão fenotípica das orquídeas.

Parei para conversar um pouquinho com o expositor, um jovem que desde criança, junto a seu pai, se dedica à arte de cultivar orquídeas, e hoje posso garantir que orquídeas não só falam como exercem todos os demais sentidos com precisão de flor!

Com o expositor aprendi que existem trinta e cinco mil espécies de orquídeas catalogadas e mais de cem mil espécies de orquídeas obtidas com manipulação genética.

Algumas delas são plantadas na terra outras se sustentam num mecanismo de simbiose, porém, infelizmente, já há espécies em extinção.

São plantas delicadas que requerem pouca rega, luz indireta, e curioso, às vezes levam mais de um ano para se ADAPTAREM a um espaço novo, e florescem uma vez a cada doze meses.

O melhor adubo para seu crescimento é a farinha de osso.

Descobri também que exitem pessoas chamadas de "dedos verdes", o que significa dizer que, muitas vezes, sequer conhecem toda a ciência botânica para cultivar a delicada espécie, porém revitalizam qualquer uma delas apenas com a sua presença.

Tenho na família uma pessoa muito querida que é exatamente assim.

Às vezes quando me vejo toda atrapalhada com as minhas plantinhas, basta que toque na terra e tudo renasce nos meu vasos lá de casa.

Decerto que no mistério dos seres vivos, fazemos parte duma cadeia ecológica única e nada mais provável do que possamos trocar energias boas ou ruins com todos os seres vivos.

Porém penso que as flores são seres extremamente sensíveis que reconhecem a alma, o caráter das pessoas.

Todos os jardineiros que conheci na vida são pessoas de boa índole, e aqui lhes deixo uma homenagem primaveril.

Querido Cartola: Hoje, início de primavera, percebo que as flores falam.

Falam tanto que nos convidam à profunda reflexão sobre o quê de concreto temos feito pelo nosso ecossistema que vive a nos dar sinais de desgaste e de altruísmo inconteste.

Salvemos, amparemos, cuidemos e desfrutemos da natureza com a mesma consciência e respeito ecológicos com os quais uma pequena flor renasce no alvorecer de cada nova primavera.

Agradeço às orquídeas do caminho de hoje e que seja a presente estação uma feliz oportunidade de conscientização para todos nós!