Mãe

Hoje olho, percebo e enxergo a mulher que está a viver comigo. Vejo uma guerreira, uma mulher vitoriosa, batalhadora. Alguém que enfrentou o destino de frente, as dificuldades de peito aberto, os problemas com coragem.

Olho para a mulher e vejo a pessoa que está lá, a continuar em frente, sem descanso, sem demora, sem reclamar.

Olho para a mulher, e vejo a minha mãe.

Vejo minha mãe, que criou dois filhos com a determinação firme de esperança em uma vida melhor. Vejo minha mãe que foi trocada pelo homem que amava de forma humilhante. Vejo minha mãe que continuou, sozinha, criando dois filhos e lutando contra a vida. Vejo minha mãe, que hoje já é avó e será mais uma vez. Vejo minha mãe, que foi criança um dia, e agora é adulta. Vejo minha mãe, que hoje é adulta, mas um dia será idosa. Vejo minha mãe que teve o orgulho de casar uma filha.

Olho para minha mãe, e vejo a mulher.

Vejo a mulher que parece cansada da vida. Vejo a garotinha da infância que cresceu vendo que seus sonhos não se realizavam. Vejo a mulher que se apaixonou e se casou muito cedo. Vejo a mulher que foi mãe ainda muito jovem. Vejo a mulher que perdeu seu primeiro filho, mas não desistiu. Vejo a mulher que por não desitir, teve mais dois filhos. Vejo a mulher que foi traída pelo marido, mas que não se deixou vencer por isso. Vejo a mulher que mora com apenas um dos filhos, po9rque o outro já tem a vida feita. Vejo a mulher que é guerreira, mas que está cansada das batalhas.

Olho para minha mãe, e vejo a mulher.

Olho para a mulher e vejo minha mãe.

Olho para a mulher que é minha mãe, para minha mãe que é mulher.

Vejo ali as marcas do tempo, que ferem, curam, machucam, aliviam.

Vejo ali as marcas de Deus, que dá a cada pessoa o cobertor de acordo com o frio, a cruz de acordo com a força, o trabalho de acordo com a necessidade.

Vejo ali as marcas da vida, que passa ligeira. A vida que é uma boa professora, mas não uma professora boazinha. A vida que pode destruir para consertar, pode derrubar para reerguer.

Vejo ali as minhas próprias marcas, com os sofrimentos que causei, com as decepções que infringi, com os fracassos que realizei. Mas vejo também as alegrias que proporcionei, o orgulho que causei, o respeito e carinho que ainda tenho.

Vejo ali as marcas que ela mesma se impôs, doas desafios que teve medo de encarar, da decepção com a pessoa que se tornou. A frustração de antigos sonhos que não foram realizados, de possíveis sonhos que se tornam distantes. O cansaço do trabalho diário que limita o proveito da vida.

Vejo ali a minha mãe.

Vejo ali a mulher.

Vejo ali, com orgulho, o exemplo que devo seguir, porque não importam as dificuldades, as situações, os desejos de Deus e do destino.

Vejo ali, a pessoa que merece meu respeito, carinho admiração.

Vejo ali, a minha mãe.

Mãe.

"Para Alice Maria, mãe,mulher e guerreira da luta cotidiana"

Eduardo Setzer Henrique
Enviado por Eduardo Setzer Henrique em 28/09/2006
Reeditado em 28/09/2006
Código do texto: T251562