Em um dia de sol: Hilda Hilst
Era um dia de sol, de muita luz e vento. Diferente daqueles dias frios, que me faziam acalentar o desejo lúdico que emancipava o adeus não dado. Iniciava em mim uma nova era, uma época de esclarecimentos.
Aproveito a claridade e em plena luta pela compreensão, na busca eu quase estupro meus amigos pela insistência. A ansiedade ganha força de um vulcão, na procura de repostas: o fumo, o ato de escrever se torna pesado então eu apenas me calo... Não sei se me sinto viciada ou violentada por esta necessidade. Desisto, suplico, adolesço, perco o juízo, enlouqueço e depois de tudo, quando quase padeço, a calma chega de mansinho e finalmente eu acho o meu eixo.
Em plena manhã de sol, me prendo em meu cubículo, respondo e-mails sem relevância e continuo a rotina passiva e babaca, que de tão repetitiva começa a me recuperar. E hoje, nem mesmo o conselho de Clarice me acalenta, e dai se a desistência é um tipo de salvação. Este verbo não tem muita força em meu vocabulário, salve Bechara e suas vertentes, o que desejo realmente é que em plena noite eu consiga manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranqüilo.
Foram tantas meias noites de sono, foram tantos finais inventados. Foi à voracidade que devorou com intensidade qualquer dos meus princípios. Lembro-me de Hilda Hilst “... mas bem que diziam: tempo não é, senhores, de inocência, nem de ternuras vãs, nem de cantigas, diziam e eu não sabia que a coisa ia ser comigo, entendes? E o mundo parecia cheio de graça (...) mas o tempo não está para graças...” E a vida segue, sem graças e com a caixa de e-mails cheia e repetitiva. E como sempre eu continuo o cotidiano me alimentando de deleites