Em plena festa
A manhã vem sorrateira, por entre festas, danço e respiro, vejo a pista de longe e dou mais um trago no meu cigarro. Ainda não sei se vou embora. É que já não sou mais criança e a noite me cansa. Tenho fome, maldita sopa... E apenas observo são conversas vãs, são rostos sem emoção, são sorrisos falsos. E eu me embriago no efeito do álcool e nem isso me faz sentir algum alivio.
Conscientemente tenho matado as lembranças, e não é que não as queira, mais a frieza dos silêncios fez o meu coração enrijecer, e penso em Neruda "Morre lentamente... quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos." Ganho coragem, procuro seu nome em minha agenda, não - não ouvirei mais ninguém só Neruda, fujo dos rostos conhecidos em plena multidão, a festa enche e eu piso forte procurando um lugar para desnudar minha alma e finalmente te procurar. Então, quando não ouço mais nada, lembro-me que em pleno rompante apaguei seus rastros.
Sem mais soluções, retorno a pista, carrego a gimba do ultimo trago de um cigarro gasto. E no mais, me entrego à música anima, o chão salta, o corpo agita. E eu em mais uma festa tento substituir os rastros de seu cheiro.