Desorientação eclesiástica
Há pouco mais de uma semana, no decorrer de uma conversa informal com uma pessoa amiga, acabei por ouvir um comentário que muito me intrigou, a ponto de eu resolver colocar no papel, porque o assunto em questão não poderia passar em branco, já que ele carrega em seu bojo algo difícil de ser digerido, principalmente por haver partido de um jornal periódico de uma seita evangélica, possuidora de reconhecimento mundial, pelos muitos milhares de adeptos, de templos e de grande penetração na mídia, inclusive pela programação televisiva diária, insistente e “marketeira”. Esse jornal, de conteúdo duvidoso em alguns de seus artigos, possui uma coluna chamada “Orientação”, que já foi alvo de comentários no meu livro “Os Sócios e a Sociedade”, como sendo um exemplo de absurdo eclesiástico.
Minha amiga, que não é filiada a essa religião, fez um comentário altamente airoso a respeito do texto lido no dito periódico, editado em meados de agosto de 2010, sob a mesma coluna “Orientação”, onde alguém, autorizado pela igreja, contou uma historinha, cujo objetivo seria o de mostrar ao leitor o quanto é importante nossas ações serem direcionadas para as demonstrações de carinho e apreço com as pessoas de nosso relacionamento, o que, em princípio, é realmente louvável. As religiões sempre procuraram mostrar os caminhos dos relacionamentos de amor entre os homens, ressaltando o poder do perdão e da compreensão, em tudo que se referisse aos desentendimentos e à violência - isto, em princípio, também é louvável. Vejamos então o conteúdo da história, na forma que me foi relatada:
“Era uma vez uma senhora casada, cuja sogra morava em sua casa, que desabafou com alguém o seu desejo de livrar-se dela, pois já não aguentava mais as implicâncias, os desaforos, a interferência constante em sua vida conjugal, transformando-se assim tudo em um ambiente infernal, difícil de ser suportado; por isso estava procurando um meio de matá-la, acabando dessa forma com seu tormento! Essas palavras caíram nos ouvidos de um sábio, que resolveu ajudá-la em seu intento, daí então forneceu a ela um maço de ervas, que deveriam ser colocadas, pouco a pouco, na alimentação da sogra, até que ela chegasse à morte por envenenamento, após um período mais ou menos longo, porém seguro. O sábio orientou-a a tomar muito cuidado para que não houvesse alguma suspeita que pudesse cair sobre ela, por essa razão seria muito importante ela não se queixar mais e a fazer de tudo para tratar a mãe de seu marido com grande demonstração de carinho, até o fim. Passados alguns meses, a nora, que seguiu à risca as palavras do sábio, passou a notar que, graças às suas atitudes amáveis, sua sogra mudou completamente o comportamento, a ponto de as duas passarem a sentir uma forte amizade mútua, portanto a virem se entender plenamente; foi quando a senhora voltou a falar com o sábio, comunicando-lhe que iria parar de envenenar a sogra, ao que ele respondeu: _Nunca houve veneno nas ervas, o que eu objetivei é que vocês mudassem a forma de se comunicarem, e as suas atitudes amistosas e carinhosas fizessem a transformação”!
_Meu Deus, quanta estupidez e que enorme exemplo de “desorientação”, próprios de quem está muito longe da espiritualidade religiosa de alto nível; é uma irresponsabilidade de alta periculosidade mundial!!! Desde quando demonstrações de amor e carinho, frutos de um sentimento altamente negativo, poderiam produzir resultados positivos? O mundo do faz de conta, meramente hipócrita, não atua na Quarta Dimensão, onde o “sonen” (razão, sentimento e vontade) é soberano para mudar o que acontece no mundo material, portanto nunca, em hipótese nenhuma, em tempo algum, um sentimento maligno poderá eliminar qualquer situação conflituosa – é absolutamente impossível! O tal sábio poderia ser, quando muito, apenas um bronco travestido de “sabido”.
É mesmo lamentável que tenhamos milhões de pessoas ao redor do Mundo, que estão participando e colaborando com toda essa idiossincrasia e demonstração de baixa espiritualidade eclesiástica, sendo enganados, desorientados e espoliados, e, o que é pior, de livre e espontânea vontade, julgando estarem no caminho da salvação e da felicidade.