Outros Tempos - Computadores e Internet
Lembro do tempo que se fazia trabalhos escolares à mão. A gente comprava aquelas folhas, "almaço", com pautas, mas tinha de ter um sem pautas para colocar o nome na frente, por exemplo, "Trabalho de Ciências"! Ainda tinha um tal de um cabeçalho com o nome da escola etc, e o nosso nome logo embaixo, para por fim, começar a escrever nosso 'trabalho", que não necessariamente deveria conter as referências ao final. As pesquisas eram feitas em livros, e a gente tinha de no mínimo, lê-los.
Naquela época o acesso ao computador era precário, acesso à internet era apenas para os ricos, e as escolas públicas não poderiam dar ao luxo de forçar seus alunos irem fazer pesquisas na rede e tal, uma que a maioria das escolas não tinha nem computador, e quando tinham, servia tão e simplesmente para substituir a máquina de escrever posta ainda no canto para os menos chegados à novidade, o que se resumia, quase sempre, em um computador ligado rodando aquela famosa proteção de tela do Windows 98, que se denominava "Mistério", não mantido mais nos sucessivos Windows.
Quando aparecia um professor mais "moderninho", a gente percebia logo, ele entrava com uma mochila/bolsa enorme, contendo muitas páginas impressas da rede mundial de computadores e/ou duas ou três caixinhas de disquetes - aliás, uma caixinha daquela com dez disquetes chegava a custar R$ 12,00! -, enfim, esse professor entusiasmado gostava de passar trabalhos, e alertava que só aceitaria os mesmos se fossem impressos, aí já "ia nós" atrás de computador com internet (naquela época, dos poquíssimos que tinha computador em casa, menos da metade estavam conectado à rede), e quase sempre iríamos parar na única lan house da cidade - na época "lan house" não era um expressão muito usada em nosso dia, tão ou quase tanto como o termo "cyber café" -.
O preço da hora da internet era caríssima, para se ter idéia, numa época em que o salário mínimo beirava duzentos reais, a hora da internet custava R$ 3,00, e em muitas cidadezinhas menores custava R$ 4,00, e ainda tinha um detalhe, não era a gente quem "navegava", tinha um técnico que usava a máquina por nós, a gente ficava sentado do lado, e quando era muita coisa, ou estávamos com pressa, deixávamos para ele ficar pesquisando, pegávamos depois, aí ele dizia "quantas horas" tinha ficado pesquisando - um absurdo, mas não nos permitíamos reclamar, a gente fazia uma "vaquinha" e pagava os quinze ou vinte reais pedidos, isso porque ainda não falei que a folha impressa custava um real cada, se fosse em preto e branco, e um real e cinquenta centavos, se fosse em colorido!
Como resultado disso, a gente achava um absurdo ter que pagar fortunas por um trabalhinho, e o fato de "pagar" já era o bastante, não interessava quem fez ou deixou de fazer, deu sua contribuição no rateio do dinheiro, já era o suficiente - foi então que foi surgindo os famosos "Ctrl C e Ctrl V".
Mas a ausência da internet em nossas vidas não era de toda, "ruim"! Tinha o lado bom da coisa! Os pais que hoje o digam! Pelo menos os filhos deles não passavam horas na frente do computador diante de incríveis jogos quase que reais; eles comiam frutas e não ficavam obesos comendo hambúrgueres e coca-cola na frente da telinha quase que vinte e quatro horas por dia!
Quanto às redes sociais, não existia ainda esse negócio de "amizade virtual", o que nos permitia zelarmos muito mais por nossos amigos que viámos todo ou quase todo dia. A gente brincava de adoleta em rodas enormes... pique esconde, cabra-cega, cai-no-poço, estátua etc. Não existia orkut, facebook, twitter, blogs e msn... era mais interessante está dentro de círculos com amigos de verdade, de carne e osso!
Naquela época, parecia que a gente vivia mais e melhor, não que agora não viva, mas é que ainda não aprendemos a viver com "todas" as coisas, sem ter que renunciar uma outra, e assim, vamos vivendo cada vez mais insensíveis às pequenas coisas, não por causa da informática, disso ou daquilo, mas por nós mesmos!
Vivamos a época do disquete, do CD, DVD, MP3, 4, 5..., pen-drive etc, na medida em que vão passando, sem esquecer que essas coisas são ultrapassadas muito rápido, mas nossas vidas, não!
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São outros tempos, mas o engraçado é que vi essa transição todinha e muito mais não narrado, e só tenho 21 anos! Meu Deus, que verão meus filhos?