João Catarino e suas molecagens

SALSICHA COM GUARANÁ

João Catarino era dono de uma loja onde se vendia tecidos, confecções, cama, mesa e utensílios domésticos. Tinha uma freguesia cativa, principalmente de gente vinda da roça, que sempre encontrava quase tudo para comprar na sua loja.
Certa vez, um casal de fazendeiros foi até sua loja fazer umas compras para o casamento de sua filha – tecido para o enxoval, roupas íntimas e vasilhas para a cozinha. Naquela pressa de comprar as coisas, D. Idalina, a esposa do fazendeiro, ia esquecendo de incluir vasilhas para o café da manhã. Mas lembrou de perguntar ao comerciante:
- Seu João, estou precisando de umas canecas grandes, esmaltadas, dessas boas para o café da manhã. O sr.tem?
- Tenho sim, D. Idalina. – Temos muitos artigos duráveis e de bom preço, prontificou o comerciante.
João Catarino era muito brincalhão, gostava de contar piadas para seus fregueses e às vezes, de pregar-lhes algumas peças. Era sempre bem humorado.
Nisso, foi até o cômodo de esmaltados e mostrou seu estoque à freguesa.
- Olhe, D. Idalina, tenho estas canecas esmaltadas, tamanho bom, inclusive com rabinho para segurar.
"Na realidade, o que o comerciante estava mostrando era, nada mais nada menos que uns pinicos pequenos para criança, daqueles bem branquinhos. – Com isso, estava querendo fazer mais uma brincadeira"
Longe de ficar brava, D. Idalina comportou-se como uma verdadeira senhora. – Bem, seu João, era dessas que eu estava precisando, são grandes, servem para tomar leite com farinha de milho, gostei – exclamou.
Àquela altura, o João não sabia se acabava a brincadeira ou se a levava até o fim. Entretanto, D. Idalina encorajou o comerciante a embrulhar as “canecas”.
Após ter feito todas as compras, tudo embrulhado e encaixotado, a D. Idalina ia esquecendo de uma coisa importante:
- Seu João, o casamento da nossa filha Luzia é dia vinte de maio. O senhor está convidado, não vai nos decepcionar – exclamou.
Quando chegou o dia do casamento, lá estava o João Catarino, trajando um fino terno de casemira, dos importados, acompanhado de sua ilustre família.
- Olha quem está aí, o meu amigo comerciante, - gostei do senhor ter vindo à festa. Vou mandar a Luzia servir-lhes alguma coisa para beber. – Disse D. Idalina.
Daí alguns instantes, apareceu a Luzia de bandeja na mão, com várias “canecas” cheias de guaraná, com pedaços de salsicha flutuando.
João Catarino olhou fixamente para as “canecas”, depois para a filha do fazendeiro e por último, para sua esposa e filhos, sem graça.
A Luzia não perdeu tempo._ Aquelas "canecas" que o senhor nos vendeu, achei-as muito bonitas e de bom gosto, por isso, resolvemos que deveria experimentá-las primeiro_pediu Luíza.
"Como o comerciante não era de perder no jogo das molecagens, aceitou as salsichas com guaraná, sorriu amarelo, bebeu o guaraná e comeu todas elas, numa boa.
ateleszimerer
Enviado por ateleszimerer em 22/09/2010
Reeditado em 27/12/2018
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