PRÓXIMO, MUITO PRÓXIMO.
 
 
   Decido escrever sobre o acontecido, até para exorcizar o sentimento de incredulidade que tomou conta de mim nestes últimos dias.
   O casal parecia harmoniosamente feliz.Saiam para o trabalho juntos e voltavam juntos. Não raro, aos domingos saiam de moto para passear.E estavam sempre juntos nas reuniões do condomínio. De repente, naquele sábado fatídico, o marido tira a vida da esposa com um tiro fatal. Ele diz que foi acidente, a policia diz que foi crime.Os vizinhos afirmam que ouviam gritos durante as discussões. Corre o boato de que ele tinha uma amante e que batia nela. Que as brigas começaram por ciumes .Ele está em liberdade, os vizinhos  que certamente serão    chamados para depor, sentem-se intimidados. E eu,  que t odos os dias a via da minha janela, ainda não acredito que ela se foi de uma forma tão violenta. Estamos habituados a ver as noticias na tv. Mas só sentimos o verdadeiro e cruel  impacto  quando o fato  ocorre próximo a nós.   Costumamos pensar que estas cenas só acontecem  nas  camadas  mais pobres da população. Ledo engano. Os dois eram um casal de nível sócio- econômico e intelectual classe media .Poderiam ter resolvido  suas diferenças  de forma civilizada. No entanto, duas vidas destruídas e a estranha sensação de que ninguém, mas ninguém mesmo está livre de uma tragédia dessas.           Estou em choque ainda.Quando abro minha janela, tenho a impressão de que vou vê-la acenando para mim e perguntando com o sinal positivo se tudo estava bem. Era assim que nos comunicávamos. Que Deus a tenha em sua morada e que   eu possa vencer a incredulidade que ainda toma conta de mim.