Inocente evolução

Submergi gostando de becos, bares, vilas e botecos. Fui revelando-me aos poucos, para mim mesmo, em tocar de clarinetas. Na infância corria descalço, sempre atrás de uma bola, em um campo de terra com goleiras de madeira feitas por nós, defronte a casa em que morava. Era uma casa humilde. Branca com verde. Foi lá que nasci. Meu pai tinha um corcel amarelo ano 73, que com orgulho em posava de caroneiro. Brincávamos de se esconder, de taco, de lutas, de guerras, mas o que com certeza predominava era o futebol. Éramos uns fascinados, todos, aquele bando de garotos entre 9 e 13 anos. Lembro-me que fiz a segunda dose da vacina BCG, em meu braço direito, quer criou uma ferida enorme, infectada. Fazia um verão intenso, com calor rigoroso, digno de passar horas deitado em nossa piscina de mil litros. Mesmo assim, com ferida e calor, não deixava de jogar bola, descalço, inocente.

Que saudades da inocência da infância. Que saudades do rádio toca disco, da vendinha ao qual comprava rapaduras de amendoim, dos amigos que me chamavam nas tardes calorosas, das reuniões dançantes.

Oh tempo que não volta mais. Tempos de felicidade, de sonhos, de boa venturança. Resta-nos, nostalgicamente, lamentar, feito cães desgarrados, esta nossa busca interminável por prazer, por tudo que está distante. Meros infelizes nós.