Texto Inaugural.
Ah, estava pensando em como ia ser meu texto inaugural. Nada muito concreto, mas também algo que não fosse de todo abstrato... Algo que mostrasse minha marca, algo que deixasse claro minha maneira de escrever, algo original.
Assolada por ideias que passavam assim como chegavam - em um estalar de dedos - fui dar uma caminhada aqui pelo bairro. Me deparei, ou melhor, topei, com um dilema: como vou mostrar minha maneira de escrever, se eu não tenho ainda uma maneira de escrever?
Como vou fazer algo original, se tudo que há pra ser feito já foi refeito tantas vezes? Algo original, que pretensão a minha. Nem Shakespeare foi original, eu então!
Me senti, confesso, um tanto nauseada, e continuei a andar. Bom, quando recomecei minha pequena caminhada, as ideias sumiram. O que fazer? Um romance? Não, não gosto tanto assim de romances. Uma comédia? Como posso fazer comédias, se eu própria não tenho senso de humor? "Então um suspense!", minha consciência grita. Certo, um suspense está bom... Começa com uma perseguição. O bandido está fugindo com a mocinha desmaiada quando... Mas espere aí, isso não é policial? "E dos velhos", minha consciência retruca. Espertinha.
Pressionada pelo peso que era fazer um bom texto inaugural, causar uma boa primeira impressão, voltei para casa e fiz nenhum. Apenas sentei aqui e angustiada, pensei: "É agora. O primeiro. Meu primeiro texto, o primeiro que alguém além de mim mesma vai ler". Bem, não posso dizer que não estou um pouco decepcionada.
Mas vá lá. Cheguei à conclusão de que originalidade é uma coisa bem relativa, e que meu jeito de escrever eu um dia vou ter, quando já estivar um pouco mais velha. E também me lembrei que estou aqui por vontade própria, sem pressão. Depois de tudo, ainda recordei que caminhadas me deixam ansiosa.