Basta o que há de ruim

Há coisas ruins nesta vida. Muitas, impensáveis, incontáveis. E dessas, todas acometem aos montes, todos os dias. E deve haver milhares de centenas aos quais nem mesmo ouvi falar. Há certas ruindades banais, cotidianas. A dor é uma coisa ruim, a falta de ar, de dinheiro. Traição também é desgastante, má educação, violência. Uso de drogas é exterminador, tanto para o usuário quanto para os pais e sociedade. Frio excessivo, calor, sede. Seca é muito ruim, guerra, fome, desespero. Perda de um ente querido, do ônibus, furar o pneu na chuva. Dor de cabeça ou uma doença incurável. Falta de sorte, conta negativa, perder o emprego, a mulher para um amigo. Assolam-nos as coisas ruins. Entristece a todos. Somos um espelho de notícias pobres, precisamos refletir, todos os dias, em jornais impressos, em telejornais, no rádio. Precisamos ver, para que de certo não façamos, ou que a sorte nos tenha, para que não passemos.

Mas agora, ficar soterrado também é ruim. E ficar soterrado e ter esperança de resgate em quatro meses deve ser avassalador, trágico, impensável. É daquelas situações de deixar qualquer um louco, atordoado, embutido numa insanidade mental irreparável. Pois bem, soterrado se está e pode-se solicitar alguma coisa, para que tragam, qualquer que seja. Eis que vá, até lá, aos soterrados, uma escova dentária, com muita pasta de dente. E fico a pensar, não poder escovar os dentes também é muito ruim, é uma plasta de incontáveis bactérias que deformam nossos caninos e molares. A sensação deve ser enfadonha, triste.

Acordar cedo em manhãs frias e chuvosas aos quais as noites foram longas também é das piores situações que há. Sem dúvida. Sofro com isso sempre. Tenho insônias que como fiéis companheiras estão sempre comigo.

Alencar com exatidão e veemência, pontual, o que há de pior nesta vida, não há. O certo é que, dos piores pesares, há sempre uma boa e medida dose de boas situações, com certeza compensatórias.