A esperar

As horas já não importam – nem o relógio, os brincos casuais ou o a cor de seus óculos. Estava só e também acompanhada, de esperança e de ansiedade. Só estava ali a esperar. Sentada em um banco, as pessoas passam sem notá-la, o que não a machuca mais. Habituada já está.

Ele disse que voltaria. Ela prometeu não esquecê-lo. Ela cumpriu, ele cumprirá? O livro a faz companhia, porém pouca atenção realmente confere às páginas de vidas descritas, vivas não vividas.

Depois de tanto tempo, o óbvio, o utópico e o fugaz já não se distinguem tanto. Lá estava ela à espera de o quê? Ainda a reconheceria? Relutou em pintar os cabelos ou cortá-los. Despediu-se de realezas e condados, não queria mais sonhar – e sim respirar o viver, conjugar o querer, compartilhar e morrer em par.

A escolha do lugar não foi aleatória. Os símbolos dão significados à vida. Ali, naquela praça, casais ainda dançam ao som de uma banda qualquer – esta história pode habitar, leitor, qualquer recinto, qualquer época, qualquer lugar: pode ser um tango na Argentina, pode ser carnaval, pode ser quaresma, Natal ou Ano Novo.

É livre aquele que a imaginar como convir, fazendo chuva, neve, sol ou lua cheia. De cabelos loiros, ruivos, olhos verdes ou negros, alta e jovial, senhora e comedida. Mulher, menina, mãe ou filha

Pode ser tanta coisa e ao mesmo tempo nada, que o nada imperou e de esperar ela cansou. Ele não apareceu, nem suas promessas, nem seu sorriso. Ela não o entregou aquela carta, aquele abraço, todos os seus sentidos.

Só de sentir-se só mais uma vez o silêncio a dominou. A lágrima caiu, ela então se retirou. Amou aquela esperança que a havia dominado a alma: a poesia encontrou, por fim, acalanto em seu coração, em vão.

Lucas Sidrim
Enviado por Lucas Sidrim em 20/09/2010
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