Um homem pode inventar sua liberdade

Um homem pode inventar sua liberdade. Pode colher margaridas debaixo do sol veraneio, num belo jardim ou no cume de uma montanha, ainda que esteja sentado no piso sórdido de uma cela escura. Jamais deve aceitar doces de mãos desconhecidas, nem tornar- se vulnerável diante da criança que chora de fome com o rosto sujo de carvão e merda, na esquina de um mundo feito às pressas. Deve admirar o homem de semblante rude e as trinta e tantas facadas que o prenderam por quinze anos - porque por trás de toda notícia criminal há uma prova de amor. Deve gerar um filho e culpá-lo; seja pela infelicidade do seu casamento ou pela crise de 1929. E nunca esperar que o garçom entenda que sua cerveja está quente ou que sua esposa compreenda que datas são desimportantes. Deve se afastar das incompreensões como se fosse o mais imperturbável e distante planeta do Sistema Solar, ou morrerá tropeçando em um ponto de interrogação. E em hipótese alguma deve esquecer que felicidade é uma coisa trivial, pois existem homens que passam a vida toda consertando geladeiras. Amor é uma chance, a raiva um momento, o silêncio uma certeza.

R A Ribeiro
Enviado por R A Ribeiro em 20/09/2010
Reeditado em 12/09/2013
Código do texto: T2509799
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