O nó

Primeiro, algo me aperta o peito. Parece um nó. Sinto-me engasgada, oprimida, voluntária de um vazio sem explicação. Tento não pensar. Quanto mais não penso, pior me sinto. Meus pensamentos não seguem uma linha, mas atravessam um labirinto de obstáculos dolorosos. Até que chegam nalgum lugar. Uma rua. Sem saída.

Tropeço em sentimentos rasgados, devassos, sem rumo. Um caminho sem flores e sem vida. Angustiada, apresso o passo e prendo o grito. Falar dói. Dizer o que sinto, dói mais ainda. O silêncio se acomoda em minha própria censura. Um pássaro sem asas, um bicho castrado, um cachorro sem dono. Eis o que encontro dentro de mim.

Não sei mais quem sou. E quem fui, esqueci-me. Passei tanto tempo querendo me entender, nas amarras de emoções perdidas e de fracassos planejados, que hoje não existo em mim. Fui alvo de um tiro certeiro, sem erro.

Fui um ser sem ser, sem ver, sem ter. Não aprendi a velha lição. Não reconheço meu rosto, não acredito em elogios sem que me soem como galanteios. Tudo é forjado e forçado, sem gosto e sem tato. Mentiras internas nas quais, sem fé, eu creio.

Quando, enfim, ouço meus sussurros, reaprendo a me prestar atenção. Sozinha, dou meus primeiros passos. Grande avanço. Incríveis descobertas. Agora, não me calo mais. Sei o que dizer quando me agridem, sei aceitar quando me contestam, sei viver diante de olhos estranhos e línguas afiadas. Com medo, mas sem pressa, sei o que é viver.

Deixo-me chorar. A dor alimenta o aprendizado. Liberto o que sinto. Abro as janelas e deixo o vento soprar. Que derrube vasos, flores, papéis e diários! Finalmente, descubro a magia do tempo. A beleza do deixar acontecer. E, só assim, consigo reescrever minha própria história. Uma história ainda sem fim.

pann
Enviado por pann em 27/09/2006
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