ENSAIO DE VALSA (Amélie gosta do gosto que as coisas tem)
AMÉLIE GOSTA DO GOSTO QUE AS COISAS TÊM. Das sensações que o tato e o olfato proporcionam. Bolhas de plástico estouradas uma a uma, ondas concêntricas no lago a partir de uma pedra jogada, a delícia de enfiar a mão num grande saco de lentilhas. Ou de feijão. Fica horas sentada no telhado observando a cidade, enche a mão com bolinhas de gude esfregando-as umas nas outras. Amélie fecha os olhos e ouve os ruídos do mundo. Um piado entre o som dos escapamentos, a cigarra ao longe e outros sons que não distingue. Gosta da sensação do grafite num bom papel e imagina-se personagem de um filme da Nouvelle Vague. Escreve poemas porque se sente sozinha. E quando está sozinha é de uma tristeza sem fim. Mas só chora porque tem vontade. E dá risada sozinha. E quando sorri, ilumina o mundo, contagia tudo à sua volta. E fica com uma vontade danada de construir luminárias. Amélie gosta do som das palavras. De algumas palavras com sentidos diversos. Ela tem um gravador de sentimentos. E uma coleção de fitas K-7 intitulada “O melhor de...” Amélie gosta do valor que as coisas têm. Porque, alguns valores, são artigo raro hoje em dia. Por isso, ela se faz especial. Como ninguém mais.
wallace puosso
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