ENSAIO DE VALSA (Amélie gosta do gosto que as coisas tem)

AMÉLIE GOSTA DO GOSTO QUE AS COISAS TÊM. Das sensações que o tato e o olfato proporcionam. Bolhas de plástico estouradas uma a uma, ondas concêntricas no lago a partir de uma pedra jogada, a delícia de enfiar a mão num grande saco de lentilhas. Ou de feijão. Fica horas sentada no telhado observando a cidade, enche a mão com bolinhas de gude esfregando-as umas nas outras. Amélie fecha os olhos e ouve os ruídos do mundo. Um piado entre o som dos escapamentos, a cigarra ao longe e outros sons que não distingue. Gosta da sensação do grafite num bom papel e imagina-se personagem de um filme da Nouvelle Vague. Escreve poemas porque se sente sozinha. E quando está sozinha é de uma tristeza sem fim. Mas só chora porque tem vontade. E dá risada sozinha. E quando sorri, ilumina o mundo, contagia tudo à sua volta. E fica com uma vontade danada de construir luminárias. Amélie gosta do som das palavras. De algumas palavras com sentidos diversos. Ela tem um gravador de sentimentos. E uma coleção de fitas K-7 intitulada “O melhor de...” Amélie gosta do valor que as coisas têm. Porque, alguns valores, são artigo raro hoje em dia. Por isso, ela se faz especial. Como ninguém mais.

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Wallace Puosso
Enviado por Wallace Puosso em 27/09/2006
Reeditado em 13/04/2009
Código do texto: T250687
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