Amor sem idade

Costumam dizer por aí que amor não tem idade. Puro engano. Amor tem a idade da nossa maturidade, o que passa longe de acompanhar nosso desenvolvimento cronológico, nunca tendo a mesma idade para duas pessoas.

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Gosto de observar um casal de velhinhos. Parece que cada ruga equivale a uma história, uma aventura, alguns daqueles momentos de controlada insanidade que cercam nossos primeiros anos de convivência, aquele amor à flor da pele. Uma saudade gostosa, que em momento algum se confunde com o lamento ou tristeza de uma virilidade não mais tão intensa, mas que o tempo passou a dividi-la com a placidez e a sabedoria de quem sabe amar de todas as maneiras e à toda prova. De quem, lá na frente, não se permitiu abaixar a cabeça com o primeiro tropeço. Nesse caso, a idade teria alguma relevância? Evidente que sim, mas a idade do amor.

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Gosto daqueles romances que começam em aventura, se fazendo valer de que o amor está acima de tudo, e que o mundo fora feito apenas para testemunhá-los. Gosto daqueles impúdicos desfiles em tapetes vermelhos às quatro da tarde no parque, praia, onde quer que seja, sem medo de ser desvendado, pelo contrário. Daqueles olhares de quem adimira, travestido em um estereotipado pensamento há muito obsoleto, dizendo ainda não ser a idade do amor, ou amor discrepante, como se desse amor quem soubesse não fosse apenas os dois.

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Gosto de quem se permite gostar, de quem não deu meia volta, de quem seguiu em frente e falou que é amor, e ponto. Acho que a escola nos ensinou errado, porque a meu ver, "amar" é verbo de ligação, de união, de relação, não necessita complemento, basta-se por si só e não gosta de dar explicação. Não segue nosso calendariozinho cristão. Não vai te dar presente no dia do seu aniversário, mas vai te presentear a cada manhã que passar ao seu lado. Vai te mostrar que chegou e ficou. Não vai embora.

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Amor não tem que provar nada pra ninguém. Não tem registro, não é barrado na festinha, não coloca sua idade na frente daquela troca de olhares que dará início a uma mudança na sua vida. Não pergunta sua idade quando trata de colocá-los juntos na poltrona do avião ou no banco do ônibus. Não coloca um amaranhado de alguns anos na frente do acaso, pois segue a escala da relevância.

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Abnegar-se de detalhes. Amar e não pedir RG. Triunfar, porque a idade da maturidade sempre chega, e aí não se pensa duas vezes.

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Não carrego documentos. Que me reviste apenas do lado de dentro.

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