NUMA SOCIEDADE "BIPOLAR", TROCANDO FIGURINHAS:
Ontem, por volta das dezoito horas dum início de noite quente e seca, meus olham olhavam para cima em meio ao tráfego lento da Marginal Pinheiros, exatamente sob o nosso postal da ponte estaiada.
Eu sempre me encanto quando passo por lá, posto que a grandeza da ponte nos desperta a atenção dos olhos para a complexa arte da engenharia, bem como para o incrível contraste social que emana daquele ponto, em que a grandiosidade dos edifícios de luxo se depara com alguns focos de habitações das comunidades carentes espalhadas pelos morros do entorno. As poucas que não se conseguiu esconder.
De repente, alguém bateu no vidro do meu carro, "vai água aí, moça?".
Claro que todos nos orientam para que não abramos os vidros dos automóveis pela cidade, porém, quem passa por ali com frequência já está familiarizado com os trabalhadores mirins que se avolumam a cada dia,não apenas naquele ponto, mas por todos os demais cantos congestionados pelo pesado trânsito de São Paulo.
Adquiri minha garrafinha de água mineral para amenizar a secura da atmosfera, e ganhei um sorriso daqueles que também hidratam a aridez dos corações das grandes cidades. Eu e aquela criança trocamos "figurinhas".
Logo mais a noite liguei a televisão no Jornal Nacional e instantaneamente a reportagem da telinha me devolveu, se não àquele mesmo ponto de São Paulo, à mesma analogia daquele sentimento de perplexidade que sempre me abate no mesmo local da marginal do Pinheiros.
A reportagem que roda o Brasil num avião da rede televisiva, nos mostrava desumanas cenas humanas de nos chocar a emoção e o entendimento, o caos da miserabilidade social em que vivem os habitantes das periferias do estado do Maranhão, donde estranhamente saiu um dos homens mais fortes da política nacional, que perenemente há anos exerce seu grande poder no Congresso Nacional.
É impossivel não parar para pensar.
Afirmo também que tais cenas não são exclusividade de lá, e aqui mesmo por São Paulo as encontramos bem próximas dos nossos olhos.
Logo mais entrou em cena a propaganda eleitoral em cadeia nacional nitidamente desde seu início BIPOLARIZADA entre os candidatos, e que claramente nos delineia uma linha demarcatória de expectativas políticas que se antagonizam, e que evidencia a nítida bipolaridade da vontade do país.
Os demais candidatos, inutilmente, se esforçam para nos dizer "olha nós, também estamos aqui!".
E paralelamente ocorre no país o censo do IBGE, que diagnostica quem somos e como vivemos, e cujas perguntas aos cidadãos são no mínimo inusitadas: "O senhor sabe ler e escrever...O SEU NOME?"
E daí saem os nossos números...estatísticos que nos ascendem no IDH.
Eu fico a me perguntar qual é a intenção dessa pergunta.
Estaríamos todos prontos par escolher e bem trilhar nossos caminhos se soubermos ler e escrever...OS NOSSOS NOMES?
Alguém do sul do país me perguntou aqui pelo Recanto da Letras quem, afinal, é o nosso ILUSTRÍSSIMO TIRIRICA, homem que já ganhou fama na política Nacional, antes mesmo de se eleger DEPUTADO FEDERAL por São Paulo.
Eu respondo: Tiririca é um palhaço cidadão que deu certo, diferentemente de tantos brasileiros que não deram, e que goza dos direitos políticos como qualquer um de nós. Apenas isso. Sua expressiva votação por São Paulo falará muito mais da nossa indignação do que qualquer outro político de "carreira" brilhante.
Com certeza se elegera e fará com que continuemos a rir, porque na verdade não nos adianta de nada...chorar. Prestará um grande serviço à nossa alegria que anda meio cabisbaixa.
É assim que vejo: Vivemos sim numa sociedade escancaradamente Bipolar, em que metade da população é EUFÓRICA por receber a mínima dignidade de que faz jus, e a outra metade segue MELANCÓLICA por só pagar e ESPERAR pelo que não recebe... nunca.
Boa eleição para todos nós, afinal, milagres acontecem...