FLAGRANTES  DA  VIDA  REAL . . .

Pontapeia furiosamente a porta do quarto dos filhos até que consegue abrir-lhe um buraco.
Os meninos estão agarrados um ao outro e choram assustados. A mãe leva-os para a sala para que não assistam àquela cena violenta e gratuita. Tenta acalmá-los e embora eles continuem a chorar, ela vai ver se percebe o que se passa com o marido.
Regressa à zona onde o marido, literalmente, urra de fúria. Pergunta-lhe o que se passa e ele levanta-lhe a mão tentando agredi-la e ela foge para a cozinha; ele segue-a e fecha a mão e chega-se a ela com o intuito de a esmurrar. Ela recua mas já não tem para onde mais ir pois está encostada à porta do quintal. Ele, desvairado, fica em frente dela de punho erguido e, com um último urro, esmurra um relógio de parede que ali estava pendurado, quebrando o plástico que protege os ponteiros e torcendo a maquinaria. Veio a perceber-se que o relógio ficou com a máquina avariada.
Após este assomo de fúria respirou fundo e dirigiu-se para a casa de banho para lavar a mão ensanguentada e colocar uns pensos rápidos.
A mãe, entretanto, foi para a sala para consolar e tentar, mais uma vez, acalmar as crianças.
Depois de ter tratado dos ferimentos, vai ao quarto e veste-se de lavado. Sai de casa batendo violentamente com a porta de saída e vai para o café beber cervejas e jogar sueca com os amigos.

Em casa os três estão num estado miserável: os meninos continuam a chorar e a mãe agarra-se a eles e chora também.

Episódios semelhantes aconteciam regularmente sem que se soubesse ao certo o que os despoletava.
Hoje, pensa ela, pode ter sido o facto de terem estado a falar sobre o desejo dele de ter um carro novo. Ela disse-lhe que não têm o dinheiro suficiente para o modelo que ele quer e mais, pagar a pronto. Ele começa por acusá-la de gastadora pois tem a mania da leitura e chega a comprar 3 ou 4 livros por mês. Ela diz-lhe que não é isso que está a dar cabo das poupanças mas sim o que ele gasta nos cafés em constantes festas com os amigos a quem paga bebidas e petiscos. Foi nesse momento que ele atacou a porta a pontapé, talvez para evitar bater nela desta vez.
Passava da meia noite quando chegou a casa completamente embriagado e atirou-se para cima da cama vestido e calçado. Ela descalçou-o, despiu-o e tapou-o. Ao lado da cabeceira colocou uma bacia para o caso de ele se sentir mal disposto e não conseguir sair dela e ir à casa de banho...
No dia seguinte levantou-se e tratou da sua higiene sem responder aos bons dias da família, comeu e saiu de casa sem esperar pelos meninos que ele levava no carro e deixava no Infantário antes de seguir para o trabalho, obrigando-a a levá-los a pé debaixo de uma tremenda tempestade...
Por mais de um mês só veio a casa para dormir, tarde e a más horas. Não abriu a boca durante esse tempo, nem para ela nem para os meninos que o saudavam e não obtinham resposta. Depois começou a vir para jantar mas por 10 meses, dez longos meses, não falou com ninguém...

Nem esteve presente às festinhas dos aniversários dos filhos embora soubessem que o pai estava no café a dois quarteirões de casa...

Nem os levou de carro ao Infantário, castigando as crianças por algo que eles não tinham culpa... Que ninguém tinha culpa...

Infelizmente, estes comportamentos ainda se repetem em muitos lares...

(Baseado em factos reais...)

Beijinhos,
Teresa Lacerda
Enviado por Teresa Lacerda em 17/09/2010
Reeditado em 17/09/2010
Código do texto: T2504568
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