Sou candidato...E daí?

(Obs. Não sou candidato a nada... Trata-se apenas de um sarcasmo - ou sátira - à situação de alguns candidatos).

Sou candidato a 'porra nenhuma'. Aliás, vivo na terra de ninguém, onde tudo acontece e tudo pode, por que não posso ser candidato? Vou ser candidato a uma vaga na Câmara Estadual, no Senado, ou até para a Presidência da República, por que não? Sou uma pessoa credenciada a receber seu voto, pois sou inteligente, sou esperto, sei como enfrentar os adversários e estou disposto a integrar-me no sistema, adotando postura de político, já que sou bom em convencer... É certo que muitas coisas do cargo não sei o que significa, mas sei dialogar, sei entrar num Gabinete e 'barganhar' meus interesses. Além disso, tenho a política em meu sangue, já que sou daqueles que tem idéias maravilhosas e posso repassá-las às pessoas com palavras bonitas, explicando ao leitor que posso não ser alguém só interessado em 'me dar bem'. Ou melhor, sei que os políticos estão desacreditados, mas sou daqueles que age de forma sutil, pois vou me aproximando dos seus interesses, através das minhas pesquisas investigativas e sei que você deseja algo que nunca foi feito antes. Toco na 'sua ferida' e digo logo a que me proponho. Vou realizar isso de vez por todas e ser o político dos seus sonhos.

Pelo pouco que disse acima, ninguém pode contestar minha candidatura, pois tenho o perfil de um candidato. Só não tenho partido. Aliás, o único partido que tenho, sobre o qual tenho administração salutar é a minha própria vontade de realizar meus sonhos. Meu sonho é ser político e ter uma vida tranquila, votando os projetos de interesse das Bancadas e com isso negociando meu voto com intensidade e com galhardia. Só não prometo intensidade e nem luta incessante, quando tiver de votar em algo que não me atrair. Como as coisas alheias não me atraem, não estou disposto a falar sobre aquilo que não me pertence e não me diz respeito.

Vou ser político para fazer as leis. Isso é fácil pois todos dizem que a nossa legislação é uma 'colcha de retalho' e tem tantas emendas quantos forem os interesses em jogo. Assim, caso for eleito, serei aquele que todos conhecem como legislador. Que palavrinha interessante. Rima com governador e com administrador, que por acaso são aqueles que guardam o cofre. Assim, como sou a lei posso ser alguém que se encosta na elite do país para ser tratado como rei. O fato é que (como político) o chefe do Poder Executivo bate nos meus ombros a todo momento e me pede para dar uma 'forcinha' no seu projeto, prometendo-se que se isso fizer não me arrependerei. Evidente que o 'não me arrependerei' não tem a conotação própria da frase, por se tratar de uma metáfora que indica riqueza iminente (sem o devido esforço).

Posso ser político porque não preciso ser alguém letrado e nem estar enfurnado no formalismo do vernáculo nacional, considerando que para se comunicar com o povo basta falar a linguagem comum e informal que circula nas 'rodinhas' de tereré ou de chimarrão. Isso vai me ajudar no momento de fazer a gravação do horário político, pois vou dizer o que posso e o que não posso, mas serei entendido. Como tem feito o candidato Tiririca: - Você sabe o que faz um candidato? - Não! - Nem eu... por isso vote em Tiririca, porque pior não fica. Assim, sendo candidato me reservo no direito de usar meu direito que é entrar na sua casa pelo clic da TV. Vou lhe falar uma verdades! Vou fazer pose de doutor, ou de ator... não sei!!! Só sei que vou me expressar com eloquência, mas peço perdão pela demência. Às vezes terei de dizer algo bonito, mas que não soa bem aos meus ouvidos. Mas estão dizendo que estou dizendo algo que faz sentido. Será? Tenho minhas dúvidas, mas quem sou eu pra contestar o partido?

Falando em partido...Aí mais uma razão para me candidatar, até porque para ganhar não preciso ser o melhor votado. Posso ter só alguns votos e depois me gabar por te vencido alguém tão temido. Isso é partido. Aquilo que parte, que divide, que não soma em nada. Até porque é ali que estão os coronéis. Que chamam a ordem unida de alguns cartéis. Que reúnem muitos soldados para enfrentar a batalha. São os candidatos avulsos. Os pobres coitados vão carregar a farda e as armas, mas a guerra e a batalha quem ganha são os graduados. Assim, reconheço que sou candidato a carregar as tralhas e não para agitar a bandeira da vitória.

Machadinho
Enviado por Machadinho em 17/09/2010
Reeditado em 20/09/2010
Código do texto: T2503787