DESCULPA

Não sei quem teve a idéia, mas reuniram num salão de festa, todos os meus desafetos; todas aquelas pessoas que passaram pelo meu caminho e que por algum motivo ou outro, faltei-lhes com a minha luz ou a luz deles me faltou; pessoas que ficaram com uma parte de mim que não era amor, nem amizade, nem qualquer outro sentimento que leva a saudade ou alegria; pessoas que tampouco deixaram em mim sementes de amizade, carinho ou harmonia. Acomodados em suas mesas, todos eles esperavam ansiosamente por minha chegada e por minhas mais sinceras desculpas; daí, fui orientado a subir num palco que havia em frente aquela gente toda e aproveitar aquela chance para pedir perdão a todas elas.

Alguém, então, ligou o microfone e me preparei para dizer a todos eles o quanto eu sentia muito por tê-los desapontado em algum canto da minha vida. Contudo, olhando para eles, duas coisas passaram pela minha cabeça:

A primeira: havia muita gente que eu tinha magoado ou que me magoara. Logo eu, que sempre me orgulhei de nunca ter tido inimigos, carregava todos aqueles desafetos comigo;

A segunda: Passei toda a minha vida pedindo desculpas. Muitas vezes, desculpas desnecessárias que só aumentaram o vale de separação que se criou entre o que eu fiz e o que isso se tornou. Eu fui aquele que corria atrás de cada uma dessas pessoas para reatar uma relação que tinha se rompido por erros de mão dupla, onde a nossa imaturidade de não saber reconhecer as diferenças um do outro foi mais forte que a amizade. Sempre fui aquele que tentou encontrá-los e nenhuma daquelas pessoas veio atrás de mim, mesmo quando havia motivos para que eu recebesse as desculpas.

Todos nós cometemos erros, e pedir desculpas é nobre desde que isso não se torne algo repetitivo, que usamos por qualquer motivo. Além disso, muitos são os casos, em que fomos nós, as vitímas de algo, e por algum motivo, nos tornamos os agressores e fomos obrigados a pedir desculpas "in private" ou em público, quando deveria ter ocorrido o contrário.

Ali, diante dos meus desafetos, percebi que estava repetindo o mesmo ciclo de novo. Então, naquele momento, olhando todas aquelas pessoas que eu magoei e que me magoaram, fiz o oposto que o Frank faria: segurei o microfone com a mão esquerda e com a direita, ergui o punho para cima e com o dedo médio levantado, eu disse a todos:

- Vão se fuder todo mundo!

Daí, acordei sorrindo, com aquele sorriso maroto nos lábios de quem teve um sonho bom e com uma leveza gigante pois deixei no sonho todo o peso que carreguei sempre comigo, ficando apenas nas costas, as asas e a satisfação de saber que nem sempre pedir desculpas nos liberta da escravidão da culpa, porém, um sincero "foda-se" sempre basta.