Político “Photoshop”
(publicado no "Portal Camaçari Agora": http://www.camacariagora.com.br/colunista.php?cod_colunista=17)
Photoshop é o famoso programa de computador largamente utilizado por profissionais e amadores da arte da fotografia, para driblar as imperfeições naturais das imagens captadas por suas lentes. Estica daqui, colore de lá, emagrece um pouco a silueta, tira as ruguinhas indesejáveis, tudo isso ao alcance de um simples “clik”.
Vocês devem estar se perguntando: mas qual a relação entre o político e esse estojo de maquiagem digital? Explico, creio que vocês já tiveram a oportunidade de segurar nas mãos os “santinhos” (ou seria diabinhos?) eleitorais dos nossos esticados candidatos. Parecem que não envelhecem nunca, não acham? Algumas fotos se perpetuam de campanha em campanha, a mesmíssima, como se o tempo não lhe desse satisfação alguma, ou quem sabe não seria mesmo muito pó, laquê e, claro, photoshop?
Até ai tudo bem, ninguém quer sair feio na foto, mas minha cutucada de hoje vai para outra forma de maquiagem, a dos atos que são (ou não, parafraseando Caetano Veloso), praticados pelos nossos futuros gestores públicos. Agora é hora das aréolas e das asinhas, mas, meu povo, sinceramente, será que ainda escolheremos os nossos gestores baseados nessa antiga forma de se fazer política, o famoso pão e circo? Será que a maior carreata, o trio mais potente, a gasolina no tanque, os tijolos, o abraço de jacaré e as trocas de favores ainda fazem parte do seu senso decisório?
Certa vez, assistindo um comício de um candidato à Câmara de Vereadores, ouvi esse bradar de cima de um trio: “estamos no quarto mandato! Vamos continuar lutando!”. Quarto mandado? Calculei rápido, 16 anos e lutando pelo que mesmo? Quais foram suas realizações? Quais obras fiscalizou? Quais leis aprovou? Quais comunidades auxiliou? Existem políticos que estão, com sua ajuda, se perpetuando no poder, como se a roda não pudesse girar e novos sangues pudessem contribuir com o processo, resumindo, como diz um famoso jargão popular: “não querem largar o osso”.
A mostra do poder econômico, para impor uma identidade de liderança, é outro recurso do político photoshop. Ele se esconde não atrás de seus feitos em prol da comunidade, mas de seu poderio empresarial, do dinheiro fartamente distribuído nas campanhas eleitorais. Quanto mais carros plotados, mais cartazes, banners, trios potentes, mais bandeiras nas ruas, mais poder tenho. Assim pensa ele e, infelizmente, muitos acreditam. Isso é tão antigo (e inadequado!). O político de hoje se esquiva ao debate. E não estou falando de sentar-se à mesa das promessas, e sim do debate de idéias e ações práticas. Ainda outro dia, uma amiga me dizia: o que ganha eleição é dinheiro e não ideais. Quando vejo essa poluição sonora e visual na cidade, quando vejo tanta gente humilde, humilhada, segurando uma bandeira debaixo de sol a pino, em troca de uns trocos, imagino que ela tem um pouco de razão, mas apenas em sua observação empírica e não em ser esse o único caminho para “ganhar” uma eleição. É preciso analisar os currículos tal qual faríamos se fossemos contratar alguém para gerir a nossa conta bancária. Aliás, indiretamente, é a nossa conta bancária mesmo. Dinheiro público é dinheiro nosso! E ai, vocês contratariam qualquer um para realizar essa atividade?
É óbvio que existem trigos, pouquíssimos, diga-se de passagem, no meio desse joio. Mas até quando o dono da empresa, do galinheiro, do consultório, da mídia, do mercado da esquina, e outros tantos donos do poder, cairão em suas graças. Por que não apostar em uma renovação, em candidatos que não possuem recursos de photoshop, que debatem e tem idéias e que as realizam, independente do dinheiro público e não apenas em época de campanha? Uma das nossas obrigações, enquanto eleitores, é avaliarmos permanentemente a vida pública de cada candidato, pois política é um processo continuo, não apenas nas vésperas das eleições, onde todo mundo é “santo”.
Vamos parar de pensar em nosso próprio umbigo e pensar no todo. Não é mais possível votar por um favor pessoal. O voto é a perfeita ferramenta que temos para construir uma Camaçari melhor, pensem nisso! A dádiva democrática do voto estabelece o nosso pacto de união e pensamento igualitário entre nós e as pessoas que nos rodeiam.
Vamos tirar o photoshop dos retratos esticados desses candidatos. Vamos conhecer a fundo suas ações e idéias (não se assustem se descobrirem que muitos não têm!). Só assim poderemos, ao menos, tentar algo novo, gestores comprometidos com o povo e não apenas com suas dívidas partidárias.
Há seis anos, escrevi para um amigo, hoje um dos secretários do governo, que era preciso ter paixão pela gestão pública, pois a paixão nos faz gerir a favor do ser humano, nos comove e move; que era preciso ser técnico, pois o conhecimento nos faz construir em rochas inabaláveis e que, por fim, deveríamos ser político, pois precisamos obter consenso de pensamentos divergentes, o que é extremamente diferente de politicagem.
Continuo acreditando nisso. Salve!
Caio Marcel Simões Souza (crenteregional@gmail.com) é Administrador de Empresas e formado em Capoeira Regional, pelo Grupo de Capoeira Regional Porto da Barra. Também é responsável e mantenedor do Projeto Social Crianças Cabeludas, no bairro do Parque das Mangabas, Camaçari.