O que nós fizemos para sermos ouvidos?
Um dia uma moça de Mari me encontrou na rodoviária e perguntou:
-- Oi, tudo bem Mozart?
E eu:
-- Tá não.
Ela me olhou com cara de melindrada e nunca mais falou comigo. Não sei o que pensou na hora, já que esperava uma resposta padrão tipo: “tudo bem, e você?”
Só que não tá tudo bem e naquele dia justamente eu não estava disposto a mentir, só isso. O cara numa de dar dó e tem que dizer que anda tudo bem...
O que eu quero falar mesmo é de comunicação, mas de outra forma. Minha geração viveu uma época de repressão que todo mundo sabe. Era pauleira mesmo, sem saída. Panela de pressão prestes a explodir, e pipocou mesmo na cara da juventude que saiu para a luta armada e se deu mal.
Mas a gente tinha o que dizer e sempre arrumava um jeito. Meu grupo fazia teatro e jornal.
Hoje, o que se faz para que nos ouçam? Quais os canais de comunicação da sociedade? Na era da revolução tecnológica, a rapaziada descobriu a facilidade de ter um computador em casa, pode facilmente gravar seu CD, montar sua home page, instalar sua rádio web. E o que é que se vê? Alienação e mais alienação.
Tirando os grupos de hip hop, alguns que sobraram sem pensar em fazer sucesso e ganhar muita grana, e os caras nas trincheiras de rádios comunitárias autênticas e raríssimas, nada se ouve. É um silêncio em estado bruto, abafado pela música ruim e pela TV medíocre.
“Ideologia, eu quero uma pra viver”, berrava Cazuza. Um disco falhado que repete, repete, repete, repete...
Li num blog e acho que vale a pena citar: “a geração atual, massacrada pela velocidade das informações derivadas da massificação da internet e telefone celular, encontra dificuldades em filtrar semicultura e obter conhecimento de qualidade, pois toda a facilidade obtida pelo “meio” acabou deixando-os mais preguiçosos e acríticos à realidade que nos cerca.” (Alan Tavares).
Pensando e repensando, percebo que a geração atual se ressente de criatividade e rebeldia. Sem capacidade criadora não se muda a realidade. Como diz Roberto Juarroz, poeta argentino: “La realidad para ser necesita la imaginación”,