DESCASO
DESCASO.
Chagaspires
Fiquei totalmente atordoado ao perceber o descaso em que se encontra o centro da cidade do Recife.
Já não ia lá fazia algum tempo.
Considerada a Veneza Brasileira por conta dos rios e das pontes que embelezam sua paisagem, a cidade está entregue ao mais puro abandono.
Cantada em verso e prosa o Recife tem maravilhado os turistas que por ali passam durante séculos.
Tendo o grande privilégio de contar com a presença de visitantes ilustres de Santa Rita do Sapucaí, (uma querida cidade das Minas Gerais), que estavam de visita e se hospedavam em minha residência, sugeri que fossemos fazer um tour, no centro da cidade.
Levei Rita e Ivon, (assim se chamam nossos convidados), para visitarem alguns pontos turísticos.
Enfrentamos um engarrafamento de mais ou menos duas horas, por causa de um protesto em frente à prefeitura, e enfim conseguimos chegar a Casa da Cultura.
Depois de visitar as antigas celas carcerárias transformadas em atrativos quiosques do artesanato nordestino, resolvemos almoçar no restaurante Leite que fica na Praça Joaquim Nabuco.
Fiquei estupefato!
Ao nos dirigirmos para o local, escolhi passarmos pela Rua do Sol que fica colada a calha do rio Capibaribe e eis o que encontramos: ruas fétidas, calçadas esburacadas e o lixo campeando por toda parte, mostrando para os que passam a decadência administrativa com que as autoridades governamentais têm reverenciado a nossa metrópole. Sem falar na grande presença de pedintes, drogados e prostitutas encontrados a beira das calçadas, causando nos que se arriscam por ali andar,temor e indignação, demonstrando visivelmente o mau zelo com que nossas autoridades dispensam a causa pública e a um dos preceitos constitucionais mais prementes que é a segurança do cidadão.
A cena dantesca vivida foi amenizada pelo requinte interno do restaurante Leite que com sua clientela elitizada, ambiente agradável, iguarias sofisticadas e excelente atendimento; nos transportaram dos umbrais do inferno para as delícias do paraíso.
Depois de um lauto almoço voltamos a enveredar pelas ruas da cidade de volta a Casa da Cultura onde havíamos estacionado o automóvel.
Desta feita rumamos para o mercado de São José onde os preços dos artigos procurados são mais amenos.
Com os quiosques amontoados e passagem estreita adentramos no emaranhado cortiço, arriscando mais uma vez a nossa segurança, já que não encontramos sequer um policial ou guarda da prefeitura que garantissem nossa integridade dentro ou fora do tradicional e descuidado mercado.
O forte odor causado pela venda de peixes e crustáceos nos deixavam nauseados e procuramos realizar nossas compras o mais depressa possível.
No pátio as barracas distribuídas sem ordenamento obstruíam a passagem.
Com alguma dificuldade chegamos a Rua de Santa Rita onde fizemos algumas compras e degustamos algumas laranjas mimo do céu. O vendedor possuía um dom de usar a faca para descascar a fruta numa tamanha rapidez que impressionou a Rita
O final de nossa aventura terminou na Igreja da Santa que tinha o nome da mineira visitante, e onde pessoas da região assistiam a missa das quatro horas.
A capela em seu estilo barroco abrigava imagens e objetos de épocas diferentes que nos entusiasmaram causando deveras um gozo divino.
Voltamos ao local do estacionamento de veículos e rumamos para a casa de Bruno e Patrícia, netos do casal, que fica no Rosarinho.
Depois desta má cheirosa aventura, não mais me arriscarei a levar ninguém ao centro da cidade.
A vergonha pela qual passei foi impagável, e ponho a culpa exclusivamente nos gestores administrativos do governo do estado e da prefeitura por não se preocuparem com nossa cidade.