IDENTIDADE
 
 
Agora tenho todas as contas em débito automático. Nem abro mais os envelopes, pois sei que vai tudo para o banco. Então, uma adaptação a um novo esquema de vida. Alerta da filha.

De modo que vão se empilhando envelopes fechados. O controle é só no extrato do bando. Alguns, um pouco diferentes, faço uma pilha separada para ver depois.

E hoje foi um día de ver depois. Uns três ao alcance da mão. Abri um do CREA e deparo com uma cartinha justificando que o documento perdido fora mandado pelo correio, onde estava como documento perdido. Ainda temos instituições honestas que funcionam.

Era a minha carteira de identidade perdida a um tempão. Que alegria! Deus há quanto tempo uso a identidade cópia, com bastante desgosto. Eu esquecera. E nem esperava mais encontrá-la!
Fiquei apalpando, reconhecendo detalhes que o tempo de uso cria, sentindo no tato. Apalpando.

E foi brotando um sentimento com entendimento da importância daquele documento original. Alegria. Reconhecimento. E reconquista de um prazer do direito à carteira de identidade.
Como pode uma coisa tão pequena ser tão significativa!

É um marco de conquista de si mesmo! Como se em usando a “copia” eu não era inteiramente eu. Meio falsa como o documento. A estima que se tem a algo conquistado exclusivamente por si próprio. Não só a confirmação profissional, mas uma coisa maior uma representação de si indivíduo, cidadão, com nome próprio, nome dos pais, CPF, etc, etc, e principalmente aquele retângulo oficial que representa o que sou, quem sou. Que me abre as portas, que me dá nome.
A IDENTIDADE ali configurada é parte de nós, da nossa personalidade, da nossa força e dos nossos direitos. Uma completude. Sanidade. Alegria de ser.