JOÃO MANTEIGA E O CACHORRÃO AMARELO
Numa bela manhã de outono, estava lá o “Seu” João Manteiga sentado num banco ao lado da grande porteira da Fazenda dos Macacos, no Capim Branco, interior mineiro, na companhia do seu cachorrão magro e amarelo, quando veio buzinando um carro reluzente com chapa de cidade grande (Rio de Janeiro), tendo ao volante um cabeludo de óculos escuros, colarzão no peito e pulseiras de metal nos dois punhos.
Assim que se aproximou, o cabeludo gritou ao “Seu” João Manteiga com toda autoridade desse mundo:-
“- Ô veio, abre a porteira que eu vou passar, tá ligado? ...” – no que o caipira, pitando tranqüilo o seu cigarrinho de palha, retrucou:-
“- Ah, moço, num pode passar não! É propriedade particular, sabe?... “
“- Olha aí, veio, ou você abre a porteira ou solto meu “Pit-Bull” daqui de dentro e ele vai acabar com esse cachorrão amarelo aí do seu lado! ...”
“- Não, moço, num posso abrir não. Já disse que é particular. Pode vortar pra cidade! ...”
“- Vou repetir mais uma vez, veio:- abre logo essa porteira que tou com pressa. Se não abrir, eu solto meu “Pit-Bull” assassino pra cima do seu cachorrão magro e amarelo. Parece mais um vira-latas!”
“- Olha, meu rapaz, já disse que num pode passar! É fazenda particular e num tamo esperando visita, viu? Faz favor, dá meia volta e vá embora! ...”
“- Pela última vez, abra ou solto meu cão assassino!” – bradou o cabeludo.
“- Ah, não solta não, por favor! Meu cachorrão amarelo é bravo, vai detonar com ele, sabe? Num solta não! ...”
“- Não vai abrir? Pois então que se dane! ...” – respondeu o “boy” , sacudindo as pulseiras do punho e abrindo a porta do carro, liberando o “Pit-Bull” assassino.
Quando seu cão partiu pra cima do cachorrão amarelo, espumando de ódio, o outro ergueu a pata dianteira e deu-lhe uma tremenda patada no peito, só uma! O Pit-Bull caiu duro e fedendo. O amarelo então cravou-lhe os dentes no pescoço e arrancou sua cabeça, espirrando sangue por todo o lado. Aí o cabeludo, pasmo, gaguejou:-
“- Ô veio, onde arranjou esse cachorro amarelo? Que raça é essa, sô? ...” – e o capiau, soltando fumaça do seu cigarrinho:-
“- Ah, num sei a raça não! Peguei ele dum circo que passou pelo Capim Branco, faz tempo, sabe? Foi abandonado. Ele tava muito magro e cabeludo, um cabelo muito grande na nuca, passando fome, fiquei com dó e cortei todo aquele cabelão. E tomei conta dele, ficou aqui na fazenda. Com a gente é manso mas com os outros é brabo que nem a peste! ...”
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B.Hte., 15/09/10