Deslumbramento digital e sociedade

O deslumbramento intelectual pelo computador e suas aplicações contém o mesmo resumo da obesidade diante do hambúrguer virtual pronto para ser recebido em casa pela tele-entrega. A facilidade como se explora o conteúdo em todas as dimensões. A incrível fragmentação dos utilitários misturados num sistema que deriva em grandes complicadores práticos tem seus dias fixados na grande alienação global. Ávida desse toque de contemplação e facilidade mágica. Pode não parecer, mas o mesmo computador que salva a humanidade num laboratório não é o mesmo que está nas mãos do usuário comum. No que tange a usabilidade, portanto não possui o mesmo valor; e é aí que o usuário, não cientista, está exposto a mais espantosa experiência.

Situações como a de um enxadrista que é convidado para jogar on-line, porém deve preencher o formulário, além de aceitar “todos os termos” que sequer podem ser traduzidos para o idioma nacional. Pasmem. Ou ainda aquela infinidade de contratos que foram aceitos pelo povo usuário apenas pelo ímpeto da utilidade momentânea. Criaturas excitadas pelo convite “avante!” ou “Meta o dedo ai!” São multidões que se inserem nesse sistema com cartas marcadas pela tecnologia externa de controle pouco divulgado na totalidade.

Nacionalmente o que temos em mente é o computador da China. Metemos à cabeça dentro dele e nos embalamos com o sonho moderno. O computador “pessoa física” se tornou um ritual de passagem, espécie de estágio como a transição da humanidade até chegar à escrita. Sem contar os mecanismos argutos empregados por uma elite técnica e financeira, com vantagens largas no domínio de cada ação disposta aos incautos navegadores. Sou favorável à teoria da “tenuidade” que é aquela onde absolutamente ninguém deve se ver ferido, mesmo em toda a extensão do território das suscetibilidades práticas, apenas pelo uso de um eletrodoméstico. Como objeto intelectual não é o mesmo que o uso de um carro ou uma arma é objeto cultural com fumos industriais. O cinismo está na sua disposição e nunca à posteriori como maquinam uma constituição sobre esse engano reverenciado como teia. Ou a técnica funciona apenas como aquele irmão mais velho, genial, porém trapaceiro. Sujeito capaz de roubar até das serpentes com apoio da grande aceitação política. Porém nesta “fase de deslumbramento” do homem comum com tudo aquilo que brilha (máquinas envelhecem) será difícil manter um sistema crítico sem análise de seu efeito nos costumes partindo da sua implantação ponto.com seus vícios. Quero dizer com isso que se tem levado cada vez mais em consideração o tema técnico em informática como essencial para a existência de criatividade virtual, gastando-se muito tempo. Efetivamente muito tempo longe da praticidade e o conforto que a máquina deveria oferecer em termos de comércio rápido, acelerado e seguro em alto nível.

O computador uniu e absorveu todas as modalidades técnicas, destruindo mercados já estruturados, para redistribuir como novidade moderna o novo culto aos deslumbrados interativos. Resultado: Todo o sistema fragmentado tenta se reinventar sobre si mesmo. A incapacidade crítica mal concentrará suas forças na compreensão desse aparelho, tal e qual o princípio cubano de administração, esse mesmo que agora forçosamente terá de se livrar de meio milhão de funcionários estatais. O convite de inserção da totalidade terá que ser refreado com delongas técnicas que simplesmente foram lançados como fruição da utilidade.