Das pessoas que a gente esquece sem querer
Eu tenho uma péssima memória para nomes. É horrível isso. E não faço por mal. Sei o tanto que é desconfortável não lembrar o nome das pessoas ao falar com elas. Parece que não dou importância.
E pior fica, quando a pessoa lembra do meu.
Mas é normal. Ainda mais, quando temos contato com tantas pessoas novas, todos os dias. Todo dia tem um paciente novo. Uma história nova. E estou nessa fase, em que raramente vou vê-lo novamente.
Mesmo assim, eu gostaria de lembrar.
Mas, o nome sempre me escapa.
Trabalhei há alguns meses em um restaurante como recepcionista, e claro, fiz amizade com muita gente. E claro, esqueci o nome da maioria.
Outro dia, voltei lá, agora como cliente. Dos que ficaram, todos muito simpáticos comigo.
Naquela época, eu geralmente chegava 11 horas, almoçava e depois ia para a porta, recepcionar.
Aos domingos, seu Oswaldo ia buscar seu almoço. Enquanto esperava, ele se sentava junto à mim e ficávamos conversando. Ficamos amigos.
Seu Oswaldo me chamava de doutora. Apesar de me ver lá na porta.
Quando voltei, semana passada, por um instante me esqueci o nome dele. E ele não estava mais lá. Foi apenas uma lembrança que o dono da churrascaria fez ao conversarmos, e eu automaticamente me senti mal. Queria ter lembrado.
Porque representava alguém importante pra mim. E parecia que eu não me importava.
Lembro-me de conversarmos sobre muitas coisas, ele me contava sobre coisas da sua profissão, sobre seus filhos e sobre sua família, sobre o amor por sua esposa. Às vezes, reclamava de algumas dores, e eu gentilmente insinuava que procurasse um médico.
E isso me faz mais culpada hoje.
Ele está cego e muito debilitado, devido a um diabete descoberto tardiamente.
Eu deveria ter insistido mais. Talvez fosse minha timidez, ou humildade besta. Mas deveria ter insistido mais.
E por mais que na época tivesse usado muitos argumentos, não foram suficientes.
Sei lá, talvez não faria a menor diferença mesmo, e mesmo assim seria tarde.
Mas de todo jeito, só queria que ele soubesse que eu me importava e que continuo me importando.