Inconstância

E eu tenho essa necessidade de tornar novo apesar da minha dificuldade em mudar. Mas estou em constante transformação: é que não reparo durante só reflito muito depois. O corpo nasce, cresce e morre durante uma vida. Mas e a alma? Quantas vezes tem de fazer isso? Sou alma e sei bem. Sei que há a necessidade de nascer, crescer e morrer - ou transceder - diversas vezes. Sei porque já morri de alma antes e ainda vivo. E às vezes sinto em mim uma pluralidade de cheiros, desejos e sons. Como se á mim cabesse todas as minhas formas e as formas de todo o mundo; a minha dor e a dor de todo o mundo; e a profundeza da minha e das almas de todo o mundo. Como se em mim houvesse muitas almas - apesar de somente uma - e um só corpo. Muitas noites e um só dia. Muitas histórias e uma só vida. Sou dona de um corpo quieto e uma alma caleidoscópica. Meu corpo tem sede de viver e sabe que em alguma esquina haverá um ponto final. E minha alma tem sede de eterno por saber que para ela sempre haverá uma reticências. Sou cheia de interrogações, exclamações, vírgulas, ponto-vírgulas, pontos e reticências... Mesmo que às vezes não saiba empregá-los como devido. Sou dona de uma alma em que às vezes falta uma vírgula aqui outra ali; e um corpo em que, às vezes, há vírgulas demais. E vou assim... tropeçando em meio às palavras, ligando o meu eu com o meu outro eu e os meus eus com o mundo.