Agenda verde-musgo
                             
Águida Hettwer
 
 Tenho uma agenda verde musgo, velha, ou melhor, caindo aos pedaços, algumas páginas coladas com fita durex. Minha falta de entusiasmo em enumerar pessoas e endereços, chega ser patético. Uma preguiça incrustada na alma, melhor dizendo. Gosto do comodismo, de folhear páginas de sépia-cor. Sou aficionada pelas marcas que o tempo deixa nas coisas.
 
  Talvez o cheiro de novo me embrulhe o estômago. Intencionalmente prefira tudo como está. As pessoas, os lugares, os pares. Ninguém precisa morrer se separar, mudar de casa, de cidade ou estado. Por que a musicalidade da vida, dura apenas algumas notas, mas têm o peso de eternidade.
 
    O que era bom. Continue bom, autêntico e saboroso. Não precisa mudar e nem desgastar no tempo. As amizades continuem firmes, os amores apaixonados, os filhos cresçam sem perder a inocência, os velhos adquirem experiência, sem perder vitalidade.
 
     Pudéssemos resgatar aquele “primeiro amor”, por tudo e pela vida. Onde a admiração e respeito valiam barras de ouro. Os defeitos eram minimizados, ou fechados no desktop. Compartilhar segredos, favores e sonhos, tinha uma naturalidade sem igual. Em dueto, a vida ia se revelando.
 
    Pessoas passam pelo lado direito e deixam um pouco de si, no lado esquerdo do peito.
 
 
 
                                  14.09.2010