Vida de solteiro
Descreio de quem diz que adora a vida de solteiro. Acho que é bom por um tempo: um mês, dois meses... Mas depois disso? Duvide-o-dó. Tenho uma amiga que – prefiro não citar nomes – insiste em dizer que adora ser solteira. E que não procura por ninguém. Ela sai à noite, bebe com os amigos e não duvido que se divirta. Mas, sabe como é, eu conheço os amigos. E sei bem que, toda noite, quase que ritualmente - quando se apronta para sair, quando põe a roupa mais bonita que tem, se maquila e permanece em frente ao espelho até se achar bela – ela sai em busca de algo mais. De alguém a mais, quem sabe.
Persevera em dizer que sai à noite para dançar, se divertir e, se por ventura acontecer, dar uns beijos em alguém interessante. Nada mais. Ou seria nada menos? Chega a ficar ofendida quando perguntam se ela não procura encontrar alguém especial: “Claro que não! Na noite não se acha ninguém!”. Está bem. Está certo. Mas, bem sei das vezes em que ela saiu comigo nas boates da vida e se encantou pelos rapazes que conhecia. Dava o telefone, esperava ansiosamente ele ligar e, se não ligava, vinha com o discurso batido de que nem queria nada, que ele era um bocó e que queria mesmo era curtir a vida.
E não foi só ela. Tenho “algumas” várias outras amigas que diziam o mesmo. Amigos também, por que não? E é claro que eu também não me excluo dessa história. Infelizmente, somos seres da mesma moeda, da mesma espécie, procurando pela mesma coisa, embora muitos não queiram admitir. Talvez, porque procurar por alguém indique fraqueza, submissão ou carência afetiva. E não ser o mais auto-suficiente do pedaço? Nem pensar!
Curtir a vida, a sós, com os amigos, com um copo de cerveja, sem parceiro definido para o sexo e para o amor pode ser bom. Aparentemente bom e suficiente para ser feliz. Mas, convenhamos, se assim fosse, os finais de novelas não seriam sempre iguais. Os filmes não precisariam se sustentar dos romances, os contos de fadas não seriam o sonho de toda “criança” (devo ser uma delas ainda) e não haveria tantos padres desistindo do celibato e se casando por aí.
E, cá entre nós, ser independente a ponto de não querer dividir a vida com ninguém, deve ser algo muito vazio. Por mais que gostemos de nós mesmos e que nos achemos a melhor companhia do mundo, o coração precisa de um friozinho na barriga, de um abraço cheio de amor e de um beijo com carinho, com verdade e, principalmente, com sentimento.
Ainda assim, há quem diga que precisa estar no clima de querer estar com alguém ao lado. Mas não precisamos de momento certo para nos envolver. Acredito que o momento incerto é muito mais precioso, pois é sem querer, é quando não esperamos, quando não estamos definitivamente preparados, mas algo, sem que saibamos ao certo o que é, nos leva adiante.
Sonhadora, talvez, ainda acredito no amor. E acredito que a vida a dois pode ser o bastante para ser feliz. E que um amor sincero é a felicidade mais rara que existe. E que, apesar de muitos quererem provar o contrário, o ser humano procura por essa metade que falta, consciente ou inconscientemente. E os “machões” que insistem em dizer que o que querem mesmo é um bom sexo e “curtir a vida adoidados”, experimentando de tudo e de todas, desculpem, mas eu não creio. Todos querem mesmo é um bom amor. Ninguém quer a solidão das almas.