O VISITANTE
O VISITANTE.
Chagaspires
Bastava se abrir a janela e ele ali estava.
A pequena criaturinha havia se encantado com sua própria imagem refletida no espelho. Parecia Narciso a contemplar sua beleza.
Era um passarinho insistente que nos visitava toda manhã.
Se não fechássemos sua entrada, ele passava o resto do dia a si debater contra o espelho impassível.
Quando encontrava a janela fechada, entrava pela porta da entrada de nossa casa e invadia nossa privacidade.
As crianças ficavam fascinadas com o seu esvoaçar.
Era interessante e ao mesmo tempo constrangedor, pois sujava todo o aparador que ficava logo abaixo do seu tão cobiçado desejo.
Ainda hoje fico a meditar, qual seria o seu engano ao contemplar o outro lado do espelho.
Será que percebia um rival e por isso se debatia com insistência defendendo seu território invadido?
Ou será que pensava ser um alguém de outro planeta a ameaçar o seu mundo?
Poderia também está confundindo a visão causadora de sua impaciência com uma futura companheira e por isso insistia tanto querendo ficar a seu lado.
Confesso que não consegui entender a insistência daquele ser tão diminuto, e a situação perseguiu por muitos e muitos dias.
Qual não foi minha surpresa ao abrir a janela no final do verão e constatar que o insistente pardal não mais entraria pela janela.
Foi embora sem aviso e nunca mais voltou me deixando na incerteza de qual seria sua verdadeira intenção.