sua ausência

Sua partida doeu por dentro e por fora. E eu sentia como se meus músculos estivessem se comprimindo e eu, esmagadamente, ficando menor e mais frágil. Eu podia ver tudo ao meu redor. Podia ouvir as pessoas chorando e conversando em busca de consolo. Eu via e ouvia tudo, mas não conseguia assimilar absolutamente nada. Meus músculos me eram mais importantes que qualquer coisa vista ou escutada. Eu só queria sentir. Talvez sentir era o único verbo que me deixava mais próxima de você. E havia a sua falta. Mais uma falta para a minha vida. Mas essa era diferente, excruciante. Sua falta me pesava como o peso de todos os anos passados e os que ainda passariam. Me encomodava como a falta de um pulmão. Sim, um pulmão. Se me pusesse a reclamar a sua falta como se estivesse perdido o meu coração, talvez eu estaria morta naquele momento e não conseguisse perceber. Mas não. Eu tinha certeza de que estava viva. Aliás, meia morta e meia viva. Porque o fato de eu ter comparado sua falta com a falta de um pulmão, é que eu não tinha partido de fato, mas, sem poder respirar, partiria em breve.