Conversações Com o Nada e a Morte.

Ao ler a Constituição Federativa do Brasil pela oitava ou nona vez, mas que talvez não seja por isso, que a vida possui algo de transcendental, cuja verdadeira compreensão nos é bloqueada.

Não me restam dúvidas disso? Ou será que todo transcendentalismo não está contido dentro de nós mesmos, como que um lenitivo, que nos faz pensar e crer desta forma?

Não sei, não sei! É algo por demais complexo para se queimar neurônios, ainda mais quando certos de que nada saberemos enquanto encarnados nesta roupagem rudimentar de seres humanos hodiernos e idiotas.

Ao modo escandinavo de ser, da vida não quero esperar nada, de nada tenho expectativas e não desejo nada mais a não ser a vida vivida um dia após o outro, e quanto mais tempo melhor.

E diante tudo isso, esse turbilhão de informações vãs e necessidades várias, às quais na maioria das vezes advindas unicamente de nossa imaginação, não me remôo nem me angustio a ponto de me abater; ao contrário, analiso e programo transformações imediatas. Se nada acontece, penso: nada dura sempre!

Até parece título de livro do Sidney Sheldon. Que Deus o tenha!

Sei que a Natureza não brinca com sua prole. Que tudo faz parte de um complexo predeterminado e sábio.

Agora, por exemplo, não quero “perder” muito mais tempo redigindo este texto. Tenho mais coisas a fazer, nada que me trará dinheiro de imediato, mas, por exemplo, como ia dizendo, tenho de terminar a leitura da Constituição da República.

Mas nada disso não me importa! Não espero, como alhures, retorno algum de vida alguma e situação nenhuma! Sou o que sou e baste a quem bastar compreender-me ou se afastar!

Há sol e pássaros no céu. Um mundo azul reflete em minhas idéias. Meu estômago ronca novamente. Essas necessidades deixam-me sem graça. É essa vontade insana de a todo o momento ter de ir ao banheiro urinar. Uma sede que não cessa. Fome a cada hora, sono incontrolável. Vontade de vomitar quando bebo demais; a maldita dor de cabeça, de rins, de fígado, enquanto um miserável canta Fígaro no banheiro, provavelmente enquanto defeca; o intestino preso, a coluna endurecida, porém ainda resistente, a calvície, cabelos brancos, rugas e limitações; dor! dor! dor!..., ei-la ao nosso dispor!

E o tempo passa. É implacável! Não nos dá saída a não ser a ceifada da velha Muerte, a senhora louca, vestida com roupa rota e negra, suja feito uma ratazana atroz, olhos vermelhos e rígidos, putrefata velha do aniquilamento! Ainda consegue enganar os irracionais, porém nós, sua velha carcomida, nós, pensamos e descobrimos você dentro de nossos pensamentos, mesmo os mais pueris e saudáveis, lá vinha você, maldita!, a me tirar o sono e a fantasia de criança. Por que eu tinha que morrer? Velha insensata! Eu era criança, não sabia? Eu não queria saber de você! Mas você vinha, hora ou outra você vinha, levando-me avó, avô e tio... Sua puta vadia!

Apesar de toda a verborréia, nada na vida me aflige. Sofri e pensei demais para admitir outra coisa que possa me perturbar ainda mais.

Nada mais me perturba muito na vida!

Cristiano Covas, 20.03.08.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 13/09/2010
Código do texto: T2495167