A Despedida
Fechada a tampa, tudo que se ouviu foi o estalido seco e dolorido: estava lacrada. Definitivamente lacrada!
O céu escureceu mais ainda, ficou mais denso, pesado e então uma a uma as gotas de chuva começaram a cair. Deslizavam docemente, copiosas, generosas, envolvendo tudo.
A tristeza, que já era enorme, pareceu maior ainda. Infinita, como o céu de chumbo.
O vento, irriquieto, alheio ao pesar imenso, fazia festa no topo das árvores alvoroçando as folhas que, descuidadas, atiravam-se indolentes sobre a tampa cerrada.
A chuva fina, caindo sem-cerimônia, dava à tampa um brilho exagerado de alegoria que as folhas apressavam-se em completar.
Ao redor, a dor era tão concreta que mal permitia respirar. Ninguém falava nada.
Nos rostos atordoados as lágrimas misturavam-se às gotas de chuva.