VÊ LÁ SE APRENDES, MULHER !
_Não te prendas, mulher! Não te prendas... _ dizia-lhe o marido.
Mas qual quê... Nascera assim e assim havia de morrer!
E tudo porque a vizinha do 4º Dto, amiga de longa data, andara a contar ao prédio todo o que ela lhe contara em segredo...
_Vê lá tu, João! Era como uma irmã e agora faz-me isto! Como me pude prender desta maneira a uma pessoa, dar-lhe a minha amizade, recebê-la cá em casa quando se zangou com o falecido? E depois levar isto por cima? - choramingava ela ao marido que cheio de paciência a ia ouvindo.
_Tu prendes-te demasiado! Confias de mais... Para ti todos são bons! Abre a pestana Zulmira, abre a pestana! Com esta idade e ainda vais nessas cantigas?
E ela fungava de desgosto...
Mudou-se para a cave um casalito recém-casado, ela filha da cunhada da porteira que conhecia e de quem era amiga desde que fora para ali morar, tinha o seu Carlitos uns 5 meses e agora homem feito e cursado em Informática.
Conhecia a pequena de vista, das poucas vezes que viera visitar a tia.
Quando regressaram da lua-de-mel, logo a Zulmira lhes foi bater à porta a perguntar se estava tudo bem, se precisavam de alguma coisa, que morava no 2º Esq e que, se precisassem de alguma coisa era só bater à porta, que sempre quisera ter uma filha mas que Deus só lhe dera uma criança e era um rapaz. Bonito rapaz, por sinal. Que estava ao dispor para tomar conta das crianças quando eles quisessem ir ao cinema ou jantar fora...
Os jovens olharam um para o outro, esboçaram um sorriso, agradeceram muito mas foram logo avisando que não haveria crianças tão cedo pois eram muito novos e queriam arrumar a vida e viajar antes de pensarem em bebés. E que muito obrigados mas tinham o indispensável na parte que tocava a loiças e talheres e demais objectos para a casa e os pais de ambos, como prenda de casamento, lhes ofereceram dois anos (um por cada casal de progenitor) de mercearia e praça.
A Zulmira ofereceu-lhes uma chávena de chá caso quisessem subir com ela a sua casa e aproveitavam e conheciam o seu João e (quem sabe? ) o seu Carlitos que devia estar a chegar do Banco e que, apesar de já ter 32 anos, era muito 'apegado' à mãe e ao pai.
Que não, muito obrigados mais uma vez mas que não apreciavam chá e certamente teríam o prazer de conhecer o Sr João e o filho ao entrarem e saírem do prédio.
_Vejam lá!... Não se acanhem... Conheço a sua tia (e virou-se para a jovem) desde sempre e somos como irmãs!
Sorrisos amarelos de cortesia da parte do casalinho e dois sonoros beijos nas faces de cada um da parte da 'tia' emprestada, como fez questão de esclarecer.
Passou-se mais ou menos um mês e lá vai a Zulmira escada abaixo bater à porta dos jovens a convidá-los a irem ver o jogo de futebol Estrela da Amadora contra o União de Leiria, que eles tinham um plasma enorme e que o jogo ia ser transmitido e que já tinham as cervejas geladas e batatas fritas das do tipo caseiro.
Que não muito obrigados mas não apreciavam futebol e não bebiam cerveja mas que agradeciam muito o convite.
Mais quatro sonoros beijos dados nas bochechas do casal...
Sobe a Zulmira até ao seu andar mas já a torcer o nariz...
Com a chegada do Verão o João, a Zulmira e o Carlitos tinham por hábito passarem os domingos nas praias da Costa, perto das matas onde, sobre uma manta aberta no chão, era espalhado farto farnel que ia desde os frangos assados, aos croquetes, pastéis de bacalhau, batatas fritas de pacote, tarte de leite condensado, uvas e cervejas frescas, muitas cervejas frescas... Almofadas para que cada um depois se deitasse a dormir a sesta.
Num sábado bem cedo de início de Verão, lá vai a Zulmira toda serigaita escada abaixo e a bater à porta do casalinho. Chama uma vez, chama duas e só à terceira é que vem a 'sobrinha' com um olho aberto e o outro fechado, a ver quem era.
_Venho convidar-vos a irem connosco amanhã à praia da Costa! Levamos farnel! Não precisam de mais nada a não ser as vossas toalhas e as almofadas para a sesta... Saímos daqui pelas oito e picos para fugir ao trânsito e arranjarmos bom lugar na praia e sairmos de lá cedo para termos bom lugar à sombra na mata!
Entretanto vai-se chegando o jovem marido, despenteado e por barbear ao que a Zulmira franze o sobrolho...
A jovem esposa explica ao que viera a vizinha e vai logo dizendo que não apreciam muito idas à praia de farnel debaixo do braço no que foi apoiada pelo marido. Além do mais trabalham muito durante a semana e as únicas saídas que fazem é visitarem os pais e na sexta, irem dançar um pouco à discoteca e que o resto do tempo é para descansarem.
Que muito obrigados mas que não...
A Zulmira sobe ao seu andar mas vai furiosa!
_Vê lá tu João!... Estou farta de convidar a lambisgóia da sobrinha da Ana Rita e o enfezado do marido e eles continuam a não aceitar a minha amizade, a minha gentileza, a minha disponibilidade... Gente ingrata é o que são!
_Oh mulher! Deixa lá os pequenos em paz!... Mas tu não vês que eles têm lá as suas amizades e se fartam de trabalhar?
_Mas isto não fica assim, não! Vou falar com a Ana Rita!
E lá vai a Zulmira como um foguete à casa da porteira tirar satisfações à pobre tia ao que esta lhe diz que os não volte a incomodar, que ela é uma abelhuda metediça!
_Vê lá tu João!... Aquela ingrata a quem eu meti no coração, que era como uma irmã para mim, que lhe guardei o gato quando foi operada à vesícula, que lhe regava as plantas quando ia à terra, a chamar-me, a mim, de abelhuda metediça!... Eu que sou tão 'apegada' a ela e ela agora faz-me isto?
_A ver se aprendes de uma vez, mulher! Já tens idade para ter mais juízo! Ai a minha paciência...
Chorou três dias completos fechada no quarto!
Entretanto, o 3º direito vagara e um casal de meia idade mudara-se para lá com duas netinhas gémeas de 6 anos.
A Zulmira prepara-se e sobe ao piso de cima a oferecer uma chávena de chá, os préstimos para o caso de quererem ir ao cinema e...
Beijinhos,
_Não te prendas, mulher! Não te prendas... _ dizia-lhe o marido.
Mas qual quê... Nascera assim e assim havia de morrer!
E tudo porque a vizinha do 4º Dto, amiga de longa data, andara a contar ao prédio todo o que ela lhe contara em segredo...
_Vê lá tu, João! Era como uma irmã e agora faz-me isto! Como me pude prender desta maneira a uma pessoa, dar-lhe a minha amizade, recebê-la cá em casa quando se zangou com o falecido? E depois levar isto por cima? - choramingava ela ao marido que cheio de paciência a ia ouvindo.
_Tu prendes-te demasiado! Confias de mais... Para ti todos são bons! Abre a pestana Zulmira, abre a pestana! Com esta idade e ainda vais nessas cantigas?
E ela fungava de desgosto...
Mudou-se para a cave um casalito recém-casado, ela filha da cunhada da porteira que conhecia e de quem era amiga desde que fora para ali morar, tinha o seu Carlitos uns 5 meses e agora homem feito e cursado em Informática.
Conhecia a pequena de vista, das poucas vezes que viera visitar a tia.
Quando regressaram da lua-de-mel, logo a Zulmira lhes foi bater à porta a perguntar se estava tudo bem, se precisavam de alguma coisa, que morava no 2º Esq e que, se precisassem de alguma coisa era só bater à porta, que sempre quisera ter uma filha mas que Deus só lhe dera uma criança e era um rapaz. Bonito rapaz, por sinal. Que estava ao dispor para tomar conta das crianças quando eles quisessem ir ao cinema ou jantar fora...
Os jovens olharam um para o outro, esboçaram um sorriso, agradeceram muito mas foram logo avisando que não haveria crianças tão cedo pois eram muito novos e queriam arrumar a vida e viajar antes de pensarem em bebés. E que muito obrigados mas tinham o indispensável na parte que tocava a loiças e talheres e demais objectos para a casa e os pais de ambos, como prenda de casamento, lhes ofereceram dois anos (um por cada casal de progenitor) de mercearia e praça.
A Zulmira ofereceu-lhes uma chávena de chá caso quisessem subir com ela a sua casa e aproveitavam e conheciam o seu João e (quem sabe? ) o seu Carlitos que devia estar a chegar do Banco e que, apesar de já ter 32 anos, era muito 'apegado' à mãe e ao pai.
Que não, muito obrigados mais uma vez mas que não apreciavam chá e certamente teríam o prazer de conhecer o Sr João e o filho ao entrarem e saírem do prédio.
_Vejam lá!... Não se acanhem... Conheço a sua tia (e virou-se para a jovem) desde sempre e somos como irmãs!
Sorrisos amarelos de cortesia da parte do casalinho e dois sonoros beijos nas faces de cada um da parte da 'tia' emprestada, como fez questão de esclarecer.
Passou-se mais ou menos um mês e lá vai a Zulmira escada abaixo bater à porta dos jovens a convidá-los a irem ver o jogo de futebol Estrela da Amadora contra o União de Leiria, que eles tinham um plasma enorme e que o jogo ia ser transmitido e que já tinham as cervejas geladas e batatas fritas das do tipo caseiro.
Que não muito obrigados mas não apreciavam futebol e não bebiam cerveja mas que agradeciam muito o convite.
Mais quatro sonoros beijos dados nas bochechas do casal...
Sobe a Zulmira até ao seu andar mas já a torcer o nariz...
Com a chegada do Verão o João, a Zulmira e o Carlitos tinham por hábito passarem os domingos nas praias da Costa, perto das matas onde, sobre uma manta aberta no chão, era espalhado farto farnel que ia desde os frangos assados, aos croquetes, pastéis de bacalhau, batatas fritas de pacote, tarte de leite condensado, uvas e cervejas frescas, muitas cervejas frescas... Almofadas para que cada um depois se deitasse a dormir a sesta.
Num sábado bem cedo de início de Verão, lá vai a Zulmira toda serigaita escada abaixo e a bater à porta do casalinho. Chama uma vez, chama duas e só à terceira é que vem a 'sobrinha' com um olho aberto e o outro fechado, a ver quem era.
_Venho convidar-vos a irem connosco amanhã à praia da Costa! Levamos farnel! Não precisam de mais nada a não ser as vossas toalhas e as almofadas para a sesta... Saímos daqui pelas oito e picos para fugir ao trânsito e arranjarmos bom lugar na praia e sairmos de lá cedo para termos bom lugar à sombra na mata!
Entretanto vai-se chegando o jovem marido, despenteado e por barbear ao que a Zulmira franze o sobrolho...
A jovem esposa explica ao que viera a vizinha e vai logo dizendo que não apreciam muito idas à praia de farnel debaixo do braço no que foi apoiada pelo marido. Além do mais trabalham muito durante a semana e as únicas saídas que fazem é visitarem os pais e na sexta, irem dançar um pouco à discoteca e que o resto do tempo é para descansarem.
Que muito obrigados mas que não...
A Zulmira sobe ao seu andar mas vai furiosa!
_Vê lá tu João!... Estou farta de convidar a lambisgóia da sobrinha da Ana Rita e o enfezado do marido e eles continuam a não aceitar a minha amizade, a minha gentileza, a minha disponibilidade... Gente ingrata é o que são!
_Oh mulher! Deixa lá os pequenos em paz!... Mas tu não vês que eles têm lá as suas amizades e se fartam de trabalhar?
_Mas isto não fica assim, não! Vou falar com a Ana Rita!
E lá vai a Zulmira como um foguete à casa da porteira tirar satisfações à pobre tia ao que esta lhe diz que os não volte a incomodar, que ela é uma abelhuda metediça!
_Vê lá tu João!... Aquela ingrata a quem eu meti no coração, que era como uma irmã para mim, que lhe guardei o gato quando foi operada à vesícula, que lhe regava as plantas quando ia à terra, a chamar-me, a mim, de abelhuda metediça!... Eu que sou tão 'apegada' a ela e ela agora faz-me isto?
_A ver se aprendes de uma vez, mulher! Já tens idade para ter mais juízo! Ai a minha paciência...
Chorou três dias completos fechada no quarto!
Entretanto, o 3º direito vagara e um casal de meia idade mudara-se para lá com duas netinhas gémeas de 6 anos.
A Zulmira prepara-se e sobe ao piso de cima a oferecer uma chávena de chá, os préstimos para o caso de quererem ir ao cinema e...
Beijinhos,