AFINAL, O QUE É TRISTEZA?
 


“- Até agora não consegui ser: a mais comportada,
a mais bela, a mais rica, a mais amada. Consegui
extrapolar  todos  os  sentimentos:  amor,    choro,
pranto,   gargalhada e   silêncios        reveladores.
Consegui ser tão natural    que assustei.     Não uso
máscaras, nem armas, nem regras. Não mudo,  me
desnudo. Só sei amar completamente nua de   tudo
que ofende e se contradiz. É o meu jeito, imperfeito
 E feliz.
(“Imperfeita” do livro “Rascunhos” de Yasmine Lemos)
 


Aqui estou sentada diante do mar, enquanto os meus pensamentos acompanham o vai vem de suas ondas. Normalmente deveria estar achando tudo isto muito bonito, mas não estou. Seria tristeza o que sinto? Mas cabe tristeza neste momento? Afinal, o que é tristeza? Para Espinoza, a tristeza é a consciência que temos da diminuição da nossa realidade e da nossa capacidade de agir. Por este prisma o motivo real não existe, talvez seja por conta da primavera que já bate à nossa porta, segundo os chineses ela tem o dom de nos deixar tristes, somos acometidos da “febre da primavera” levada pela preguiça que nos domina no cumprimento das nossas tarefas quando na realidade o que desejamos é o ócio, daí a tristeza. Assim, estou eu, mesmo diante da beleza, repetindo Manuel Bandeira: “Que importa a paisagem. (...) a Linha do horizonte – O que eu vejo é o beco”.

Onda vai... onda vem...E “o que vejo é o beco”. Ah, como eu gostaria que fosse possível reduzir toda a existência
do meu pensamento e que eu deixasse de tomar consciência  do concreto que me cerca, dando lugar ao abstrato onde a representação figurativa
não transcende as aparências
exteriores da realidade.

 
Ah, quem dera...


                       
Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 13/09/2010
Reeditado em 13/09/2010
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