Os domingos na vila
Hoje acordei com a lembrança dos domingos da minha infância.
Em nossa pequenina vila, os domingos eram sempre tão parecidos, e tão deliciosos.
Era dia de meus primos e tios visitar nossos avós, a casa ficava repleta de gente.
A mesa de almoço era uma festa só, muita comida e conversa, claro como em toda casa de bons italianos.
Todos esperavam pelo macarrão feito em casa, pela minha vó Carmela, ela o fazia no sabado, e colocava pra secar em um varal que havia em cima do fogão a lenha, que tambem servia para pendurar as linguiças e os salames que meu pai fazia.
Depois do almoço eu, meu primo e primas, nos aventuravamos a explorar um dos fornos de cal que havia na vila. Para chegar ate ele, tinhamos que andar sobre um trilho de trem que se destinava ao carregamento do cal.
Ficava em um lugar alto e bastante perigoso, minha mãe cansava de pedir para que não fossemos lá, mas era dos lugares que mais me encantava estar, pois desse local avistava toda nossa vila, o rio que a cortava, as plantações de pinheiros e eucaliptos.
Era uma linda vista.
Na volta paravamos para brincar nos montes de serragem (sobras de madeira) que eram depositados naquele local. Outro pedido que minha mãe fazia, era que não fossemos brincar nessas montanhas de serragem, pois podiamos afundar dentro delas e ficar sem ar, ate que alguem nos achasse.
Mas.... resistir a saltar sobre a maciez daquele monte, e sair toda cheia de coceira, que só passava com um bom banho, era mesmo impossivel.
Hoje, não sei porque, acordei com as imagens daqueles domingos muito nitidas. Tempo bom, de gente de hábitos simples que precisava de tão pouco pra se divertir, pra viver, pra ser feliz !
E me perguntei, o que aconteceu conosco humanidade, que hoje precisamos de tanto, e cada vez esse tanto aumenta mais, para satisfazer nossas "necessidades" e mesmo tentando, parece que fica cada dia mais distante esse bem estar que tinhamos e sentiamos, com coisas e feitos tão simples !
Ninguem tinha carro, ou somente 2 ou 3 possuia um em nossa vila. Não havia ainda a tv a cores, alias ate a branco e preto, so fui conhecer quando ja tinha 7 anos.
Tambem, não tinhamos microondas, computadores, aparelho de som equipadíssimos.
O luxo era o rádio de válvulas de meu avô, em que minha vó adorava ouvir a novela, e meu vô nunca deixava de escutar a hora do Brasil.
Não sonhavamos em viajar de avião, ou passear longe nas ferias escolares, nem era preciso, pois a vila era magica.
Andar na maquininha (parecido com um bonde) que havia para transportar os moradores de uma vila para outra, era uma aventura sem igual. Ia apreciando a paisagem bucólica que margeava os dois lados do caminho.
Flores do campo, avencas, amoras, passaros de todas as cores, rios, e arvores majestosas, faziam parte do percurso que aquela saudosa condução percorria.
Havia tanto o que fazer naquele vilarejo encantado !
Tantas brincadeiras e tantos amigos, para encher nosso dia de alegria e diversão.
Que não sentíamos falta de brinquedos sofisticados, e nem percebíamos, que só ganhavamos um no natal.
Inventar era conosco mesmo, e no quintal improvisavamos um fogão no chão e brincavamos de fazer almoço, e depois comer aquele arroz que sempre ficava mal cozido, mas que pra nos era uma delicia.
Andar por aquelas plantações de pinheiros e eucaliptos, sem medo nenhum, pois naquela vila nunca havia ocorrido nada que tivesse assustado ninguem.
Que gostoso percorrer aquelas florestas de arvores de natal, o cheiro delicioso que vinha delas, é inesquecível.
Fico a pensar, que precisavamos de tão pouco para viver e ser feliz !
Tudo simples, e maravilhoso !
Hoje tudo tão sofisticado e nem sempre atingindo as expectativas.
Por isso as saudades......