exalando vida

E eu sentia a minha vida partindo aos poucos como uma garrafa de refrigerante meio aberta perdendo seu gás. Mas eu ainda corria para ver o avião dar a volta ao céu. Ainda sorria para as estrelas todas as noites - até mesmo nas noites em que não as via. Ainda saia correndo para o portão com os olhos brilhando quando passava o rapaz do algodão doce. Ainda carregava um brilho dentro de mim que refletia nos meus olhos. Um brilho de quem sente, de quem sonha. Um brilho de criança. Eterna criança. E talvez fosse o meu tesouro. O que tanto temia perder. Que eu continue me perdendo e me buscando, sempre! E que junto comigo, eu descubra a cada abrir dos olhos um motivo para sorrir, para viver... ou quem sabe, para chorar. Que meu ar se escape devagarinho, que me brilho se vá de pouquinho em pouquinho... Porque existo e não posso fugir de um fim. Só desejo que eu me perca bem devagarinho; que eu me escape a cada dia só um pouquinho... Até o dia em que meus olhos se fechem para sempre; que meu ar totalmente partido de mim, esteja longe, espalhando o perfume das flores entre os que ainda caminham e minha alma se encontre calada, costurada, aberta e remendada. Até o dia em que eu me sinta uma garrafa completamente sem gás. Ou não sinta mais nada.