Onde você estava em 11 de Setembro de 2001?
Eu estava raspando o bigode, deixando o meu cabelo meio punk-moicano e mascando chiclete, para parecer menos árabe, para não se confundido com um muçulmano e ser espancado por um holligan extremista.
Adoramos uma data, aniversariar alguma coisa, quer seja coisa boa ou tragédia, estamos sempre lembrando, recordando e tentando reler, reinterpretar o que houve, com outro olhar, com um diferente ponto de vista. Porém, assim como a vida segue, nem tudo se modifica, o preconceito e o medo daquilo que é diferente ainda queima livro, ainda toca fogo em bandeira. Não foi diferente naquele 11 de Setembro, quando, as ruas de Londres ficaram um pandemônio, pois espalhou-se um pânico à la PCC, que a Inglaterra seria o próximo alvo dos "muçulmanos terroristas". Se em todo boato urbano há um tanto de verdade, há outro caminhão de mentira: Londres não foi atacada naquela data, porém, um ódio burro e louco tomou conta do bom senso, e nas ruas da cidade, vários muçulmanos, ou qualquer pessoa que se asemelhasse a um deles, estava sendo perseguida, xingada e em alguns casos, apedrejadas.
Os casos de violência se multiplicavam e, nas empresas e universidades, as pessoas eram avisadas para evitar ao máximo, sair as ruas. O mundo tinha parado, e eu só queria voltar para casa inteiro, ainda mais depois de ter descoberto naquele dia, que eu tinha a fisionomia de um árabe. Os amigos no trabalho avisaram:
- Frank, pôe uma camisa do Brasil ou os caras vão te pegar!
Os caras eram um bando de ingleses skinheads que estava do lado de fora do prédio onde eu estava. Só restava imitar o Roberto de Niro em Taxi Driver, e com um barbeador cego arranquei, pela primeira vez na minha vida, o meu bigode; com sobras de sabonete, transformei o meu topete rockabilly num moicano punk da frequesia de Westminster, e mascando uma bala que eu fingi que era chiclete, saí do prédio em direção ao ponto de ônibus, caminhando e enfrentando aquela horda de holligans sanguinários, e graças a Allah - louvado seja o seu nome - e Nossa Senhora de Portobello, cheguei em casa são e salvo para escrever essa crônica, que estranhamente, ficou guardada num velho caderno de notas, e só hoje, resolvi compartilhar com vocês, na esperança que vocês compreendam que nem todo terrorista é muçulmano, e nem todo mundo que parece árabe é muçulmano ou mesmo amigo dos "manos", às vezes, o cara que parece ter nascido lá nos orientes médios da vida, é só um paraíbano, na hora errada e no local equivocado, e escapou por pouco, de ter levado na cara, o peso do preconceito e da ignorância.