Mulher bonita gosta de ser vista e revista

-Sim, Ezequias Urias, eu tenho para mim que toda mulher bonita gosta de ser vista e se possível sair em revista porque é bicho que gosta de se amostrar. Veja o caso de Maria Elizabeth, a Bebeta, coroa lapidada, uma mulher nos seus quarenta janeiros inoxidáveis, enxuta mais do que carne de sol de Campo Maior em exposição em Teresina, adora ir no super-mercado para ser vista, revista e e revalidada pelos olhares dos homens capciosos, gulosos de carne alheia, cometendo o pecado da gula, de desejar a mulher do próximo, com o próximo longe dele, infringindo o nono mandamento da lei de Deus. Te digo aqui, neste instante que até eu mesmo que sou comedido e caseiro, não me contenho quando vejo Maria Elizabeth andando pelo super-mercado, livre, leve e solta, os ombros nus e brilhosos.Ela parece que se bronzeia quando vai ás compras nos extras desta cidade.Ah, Ezequias Urias, mulher bonita é bicho que deixa o homem dela maluco, principalmente o próximo quando não é a dele e ele sabe que é mais fácil o mar secar do que ele chegar junto daquele pedaço de mau caminho.Que passa por ele, esnobando sexo, como uma cadela no cio e ele, pobre cachorro, só olha, repara com os olhos come com a testa que com os olhos só ganha remela. Ezequias Urias, a vida é um negócio interessante. O dono daquele material não está nem aí. Deve está no escritório, ambulatório, menos ao lado dela. Pode usar e abusar e tem cabra tão corno que até abusa.Enjoa. Pode nem usar mais. Abusou da fartura de carne, de sexo, de gostosura. Vai ver que de noite, se deita de banda, de bunda,ronca e até a premia com alguns puns. Ah, a vida é uma comédia.Melhor do que ser um drama, com choros e lamentações. Sei não, Ezequias Urias, aqui nesta mesa de bar, como diz o Reginaldo Rossi, a gente troca idéias e conta suas mágoas. A minha mágoa é esta. Ver e não comer. Ver um mulheraço daquele ser tão mal aproveitado, tanta carne e o povo de Guaribas e Acauã passando fome.

- Antenildo Carlos, rapaz, tuas divagações me deixam pensativo e meditabundo tendo em vista as acontecências existenciais do dia a dia, noite a noite.O que diria, o que faria o dono desta beleza afrodisíaca de quem tanto falas e vais morrer sem digerir pois pelo visto não chega para teu bico?Se ele sabe das tuas pretensões, dos teus pensamentos eróticos, o que será de ti pobre mortal, ganhador de dois salarios ?

-Ah, o dono, o pseudo dono ?O dono de fato e não de direito porque o direito seria eu, um amante á moda antiga, daquele que ainda manda flores e chama de querida a namorada ? Eu, se ele ciumasse eu daria o peito ao punhal assassino mas s ó depois de haver cometido o o pecado catalogado como o nono mandamento. E enquanto isto não acontece, eu me martirizo vendo o seu caminhado, o seu subir e desce de ancas, suas costas bronzeadas, seu rosto grego e seu olhar entre a inocência e o pecado. Fazer o quê ?

-Fazer ou dizer como Mário Quintana:” Senhora, eu vos amo tanto que até por vosso marido, me dá um certo quebranto.”