Coragem Algemada

Lambuso de água o rosto. Me encaro no espelho. Quantas fotos por trás desses olhos, meu Deus, nunca reveladas. E essas lágrimas secas, relembrando recomeços infinitos. Desço do salto, me jogo na cama, ligo a TV. Mais uma criança terrivelmente assassinada. Por alguém que precisa de salto pra alma, suponho. Desligo a TV. Ligo novamente em mim, em algum canal falhoso, de zueira insuportável, precisando de antena. Mas não quero antena. Desligo-me de tudo. Flutuo no nada. É então que você aparece, invade o meu quarto, pergunta se está tudo bem. Meus olhos me entregam: preciso de reparo. (mas se me amas, não me repare. me abrace, me beija, me toma em seus braços com o dobro do peso, pois me segure também a alma. mas me queira assim, faltosa, meio torta, sem reparo algum.) E você lê meu olhar, me abraça como quem não quer nada, aos poucos me toma em seus braços, me aperta, me beija, me abriga, me tem. E deixa sua voz solta pelo ar, dizendo que sou apenas uma alma tentando se costurar, mas que por tentar acabou furando o dedo com a agulha. A agulha é o mundo e eu com medo do mundo. O que é verdade. Sinto que estou sempre de malas prontas e nunca pronta para partir.

Lara Bifano Andrade
Enviado por Lara Bifano Andrade em 11/09/2010
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