As compras
Dentro do ônibus que se encaminhava para o meu bairro, eu vinha sentado escutando música, o ônibus não estava lotado, apesar de ter bastante gente. Retirei os fones de ouvido e os guardei junto com o celular em meu bolso. Meus olhos correram pelas pessoas que estavam no ônibus, a maioria delas parecia presa em seu próprio mundo contabilizando os seus problemas. Outras conversavam e havia ainda algumas que exibiam expressões desanimadas que eu supus serem oriundas do cansaço do trabalho.
O ônibus sacolejava com as falhas que havia no asfalto. Recostei a cabeça no vidro do ônibus, desanimado, pois teria duas provas para fazer e aquela semana não tinha sido de provas lá muito agradáveis. O ônibus parou em um ponto e um menino franzino que caminhava de um lado para o outro chamou a minha atenção, ele parecia estar esperando por alguém.
Assim que o ônibus parou completamente, vi que o menino ficou na calçada a espera de alguém. Uma moça desceu as escadas do ônibus com alguma dificuldade. O garoto de pronto foi ajudá-la, pois ela estava com muitas sacolas em seus braços. Ele distribuiu-as entre seus braços miúdos. A moça acariciou a cabeça do menino e ambos sorriram.
Assim que o ônibus foi embora pude ver ainda que enquanto se encaminhavam para sua casa, ela enlaçara um dos braços nos ombros do franzino menino, trazendo-o para perto de si. A beleza daquela cena não me saiu da cabeça, era algo tão simples, mas de uma beleza comovente.
Tanto a mulher como o menino, eu conhecia ambos, sabia que eram mãe e filho. E exatamente por isso me perguntei quantos filhos hoje em dia ficam esperando o tempo que for pela mãe para simplesmente ajudá-la com as compras? Ou ajudá-la com o que quer que seja?