PÉ EM DEUS E FÉ NA TÁBUA

Dança lenta

Alguma vez você já viu

Crianças brincando de roda?

Ou ouviu o som da chuva

Batendo no chão?

Já seguiu o vôo errático de uma borboleta?

Ou olhou para o sol dando lugar à noite?

É melhor desacelerar,

Não dance tão rápido

O tempo é curto

E a música acaba.

Você passa batido

Por cada dia?

Quando você pergunta: como vai você?

Ouve a resposta?

Quando acaba o dia

Você se deita em sua cama

Com as centenas de tarefas

Percorrendo sua cabeça?

É melhor desacelerar,

Não dance tão rápido

O tempo é curto

E a música acaba.

Alguma vez disse a seu filho

Pode ser amanhã?

E, na sua pressa

Percebeu a tristeza em seu rosto?

Já perdeu contato

E deixou morrer um amigo

Porque nunca teve tempo

De ligar e dizer "oi"?

É melhor desacelerar,

Não dance tão rápido

O tempo é curto

E a música acaba.

Quando você corre para chegar a algum lugar

Perde metade da graça em chegar lá.

Quando se preocupa e atropela seu dia

É como um presente que vai pro lixo sem ser aberto.

A vida não é uma corrida

Vá devagar.

Ouça a música

Antes que ela acabe.

O texto acima foi escrito por uma menina com uma doença em faze terminal...

Ela está perdendo a corrida, por isso consegue perceber o que nos escapa na batalha diária? É assustador o número de pessoas mortas pelo trânsito em cada feriadão. Aqui no Rio Grande do Sul, foram 21 vítimas no último feriado. Mas porque somos assim? Porque não conseguimos ver nossos semelhantes como seres iguais? O brasileiro é assim, achamos que sempre somos superiores e conseguiremos dar o famoso jeitinho. Olhamos o pedestre que atravessa a frente de nosso carro importado, como um ser inferior. Não é ninguém, é só um maldito pedestre atrapalhando. As estradas e as regras de trânsito foram criadas para uma população igualitária onde todos devem observá-las e todos tem os mesmos direitos. Mas nós não pensamos assim. Nossos filhos são sempre mais bonitos do que os dos outros.

Se temos dinheiro ou um cargo importante, nos julgamos acima da lei e inatingíveis pelas regras da natureza ou dos homens. Damos ao nosso filho, um carro. Uma semana depois estamos chorando sua morte. Temos pressa, o mundo pode acabar daqui a pouco? Não temos paciência para aguardar a nossa vez na fila do banco. Não temos paciência para aguardar a nossa vez de ultrapassar. Faixa dupla é coisa pra incompetente. Eu sou bom nisso! Sempre tem um jeitinho de driblar a sorte e escapar da multa. Colocamos no nosso porta-malas um super som de 2000 watts RMS. Coisa de última geração. Os outros que ouçam e reconheçam o meu poder. Mas estamos contrariando as leis naturais e sociais. Um barulho ensurdecedor colocado num espaço pequeno e insuficiente. Os alto falantes foram desenhados para enviar o som na direção do ouvinte, mas nós os colocamos fazendo som para trás. Direto na parede do porta malas e nem percebemos a reverberação que isso produz. Os outros que se danem. Se os graves incomodam, ponham algodão nos ouvidos. Já se disse que a igualdade não combina com a família enquanto acharmos que os nossos semelhantes são inferiores. Não ligamos para nossa própria vida, porque nos importaríamos com a dos outros? Quando aprenderemos a olhar nossos semelhantes como iguais? Quantas mortes seriam evitadas se tivéssemos tempo e paciência para esperar a nossa vez? O mundo é uma festa e eu sou o centro. Os outros são meros coadjuvantes. Julgamos-nos assim! Acima de tudo! As regras são para os inferiores.

Deus! Que se dane, não mandei que me fizesse um ser superior.

Sai da frente que tenho pressa! Comigo é: Pé em Deus e fé na tábua.

Lauro Winck
Enviado por Lauro Winck em 10/09/2010
Código do texto: T2489487
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