11. O coro da basílica de São Pedro
11. O coro da basílica de São Pedro
Por causa do soco, deixei de ser católico: ou era inteiro ou não era. Jurara não voltar mais a ser católico, mas o coro da capela de São Pedro fez-me agora mesmo quebrar essa jura. Dirigi-me para a missa.
Há quatro meses que não dizia isso desde o domingo do soco que regressara da igreja, virei-me com orgulho para o segurança: sou católico, quero ouvir missa em São Pedro.
Ouvi missa. Comunguei.
A minha religião é a de Deus e a de Cristo, não é a de nenhum homem, não haverá homem algum que me impeça de ouvir missa, de comungar, de ir nos romeiros, de fazer tudo o que um católico inteiro pode fazer.
Dou contas a Deus e a Cristo, não a nenhum homem. Não quebrei nenhum voto, não fiz nenhum mal, a vida fez-me acontecer o que aconteceu: atire a primeira pedra quem não tenha pecados. Só tenho culpa de não ter culpa.
Quero ver quem me vá tentar impedir de ser cidadão inteiro. Sou católico, sempre fui, mas antes de ser católico sempre fui religioso.
A língua de Deus só pode ser o latim porque eu o ouvi agora no latim dos padres; a casa de Deus só pode ser esta igreja porque o vi descer naquele raio de luz que os arquitectos desta igreja inventaram para este espaço a esta hora deste dia do ano.
Se existe Deus, ele certamente está aqui porque nesta casa é difícil não se acreditar em Deus.
Deus, precisas de mim aqui? Não precisas de alguém para exercer qualquer trabalho que seja: porteiro, limpeza, na biblioteca do Vaticano?
Ao ir comungar, vi o coro. Eram umas miúdas da idade da minha filha Filipa com uma voz angelical.
Ao agradecer, no final da missa, o padre que presidiu à missa, agradeceu às ladies de El Paso, dos Estados Unidos.
Vaticano, 8 de Julho de 2010
Mário Moura