EMOS x COLORS
Você sabe o que é um "emo"? Eu suspeito, mas, como aprendi na minha escolinha de Jornalismo (não, nesta eu não levava lancheira do Homem-Aranha para a hora do recreio), não devemos inventar se não temos certeza e, sim, procurar citações. Portanto, lá vai:
“O termo ‘emo’ foi originalmente dado às bandas do cenário punk de Washington – DC, que compunham num lirismo mais emotivo que o habitual [...]. No Brasil, o gênero se estabeleceu [...] em meados de 2003, na cidade de São Paulo, [...] e influenciou também uma moda de adolescentes caracterizada não somente pela música, mas também pelo comportamento geralmente emotivo e tolerante, cujo visual consiste, em geral, em trajes pretos, sapatos estilo ‘All-Stars’ e franjas caídas sobre os olhos”.
Infelizmente precisei pegar uma descrição da Wikipédia (que, convenhamos, não é de se dar muito crédito) porque os dicionários ainda não reconhecem o termo. Todavia, o importante é que o leitor entenda que, em uma palavra, o que designa os emos é o ‘sofrimento’. Emo sofre. Pelo quê? Isso não importa. O que importa é que eles sofrem; e ponto.
Contudo, a problemática está no fato de que, neste mundo cujas novidades surgem mais velozmente que o Rubinho Barrichello em final de reta (ok, foi piada), os emos já não são mais a vanguarda. Segundo um amigo, que é professor universitário e, por conseguinte, grande entendido nas tendências adolescentes, agora a nova moda são os "colors".
Juro que não sabia dos colors (pois é, sou um atrasadão mesmo). O pior é que este meu amigo explicou que, na verdade, os colors são inimigos dos emos. “Tipo os Cobras eram inimigos dos G. I. Joe?”, perguntei. “Exatamente”, disse ele. E eu completei: “Caraca!”
Ou seja, até no mundo dos rebeldes sem causa o maniqueísmo é que comanda as ações. Os emos, com suas figuras tétricas, tristes, solitárias, deprimidas, ao som de Fresno. E os colors, com o perdão do trocadilho, coloridos, alegres e afoitos nas encostas lisas da breguisse, ao som de Restart e Cine (não os conheço, mas é o que se apregoa por aí).
Imagino que deva ser mais ou menos como He-Man versus Esqueleto. Um, ainda Príncipe Adams, de roupa coladinha cor-de-rosa, cabelinho tingido de amarelo e cortado à tigelinha (ou mais desfiado e “moderninho”) contra o lado sombrio, caveirístico, com franjas caídas sobre as órbitas, e deprimente da força.
Por falar em força, parece que essa luta dos colors contra os emos tem um quê de George Lucas. Algo, assim, Guerra nas Estrelas. Assim sendo, é preciso escolher um lado. Ou se é jedi ou se é sith. Ou se é capitalismo ou se é comunismo. Ou se está com Jack, Kate e Sawyer ou se está com os Outros.
Os colors devem achar os emos maníaco-depressivos, que criticam a moda como algo superficial, porém, a usam como expressão. Já os emos devem ver os colors como palhaços (no mau sentido da palavra) sem graça, sem pensamento crítico, sem picadeiro e com o mesmo entendimento distorcido do vestuário.
Eu acho todos idiotas.
Mas, para não dizerem que sou parcial e não dou chance à defesa, tive a pachorra de ir à Internet procurar trechos das músicas das bandas citadas acima. Preparem seus cérebros, pois os danos podem ser irreversíveis:
Fresno
Perdoa por eu não poder te perdoar
Dói muito mais em mim não ter a quem amar
Ecoa em mim o silêncio dessa solidão
Pudera eu viver sem coração...
(aaahhh!, me tirem o tuuubo!)
Restart
Como se agora não existisse mais ninguém
Sobre a maior falta que eu sinto de alguém
E incrível como você me deixou assim
Pedindo a Deus pra que isso nunca tenha fim
(é sertanejo?)
Cine
As cores, lá fora, me disseram pra continuar
Elas me disseram pra continuar (eu já superei)
Mas eu queria suas mãos nas minhas revelar as fotos
Que tiramos e ninguém sabia da sua partida (Da sua partida)
(gente, não rima porra com coisa colorida nenhuma)
Pois é... que saudade de fatos que não vivi. Que saudade da “disputa” entre Beatles e Rolling Stones; ou do duelo entre tropicalistas e MPB. Quiçá, das coisas que vivi: como o rock bem humorado e inteligente do Ultraje a Rigor; ou do inovador, brasileiro e sem pudor som dos Raimundos.
Enfim, seja nos quesitos música, poesia, movimento, expressão... colors e emos não servem para nada. Pois, se, além da questão musical, falarmos de “atitude” (palavrinha tão em moda e usada por emos, colors e adjacências em suas defesas), queria vê-los compor letras bregas, como as vistas neste texto, em tempos de censura, em tempos de ditadura militar – esta, sim, a causa de reais sofrimentos (sem uso de maquiagem, roupas de grife à la brechó, cabelo moderninho ou tênis All Star) impostos àqueles que decidiram, à época, enfrentar o regime vigente.