Ousadia
Ousadia. Foi isso que pensei no dia que decidi largar tudo e vir morar sozinha. Foi o primeiro dia, meu grito de independência por mais que naqueles dias de tempestade eu vivesse mais debaixo do meu edredom e vendo antigos filmes e abraçada com a solidão que acabava de conquistar, mas, vitoriosa e feliz.
Tenho um passado longo, contado através das rugas que insistem em aparecer ao lado dos meus olhos. Fiz meu diário de retalhos - fotografias, cartas, bilhetes, pequenos fragmentos de emoções amontoados na mesma caixa, quase quebra-cabeça. De uma história que nem eu mesmo sei se quero contar e que nem me valeria um livro. Já que dramas nunca são tão importantes na literatura, são apenas adendos de meros sentimentos vãos e já degolados, mais melhor vive-los até o limite que transformá-los em calo, isso mesmo, amores não manifestados viram calo ou pior uma ferida eterna.
E eu que sempre lembrei de minhas histórias pelos amores que vivi e livros que li. Lembro de tudo, como se fosse ontem. Cada cheiro, gosto, as emoções e suas músicas. Mas não, não mereço mais viver de lamúrias ou as margens de devaneios. É que ando solta demais e fragilizada por falsas promessas, sou quase um bilhete solto ventania. Não tenho porto, parada, não tenho alento. Então vou a procura, quase guerreira, guardei minhas armas com Jorge e saio, mesmo ferida para mais uma batalha, onde desta vez espero que meu coração volte inteiro.