Deserto de Solidão

Os sentimentos fugiam pelo deserto e eu corria cambaleando atrás deles, contudo eles me pareciam mais rápidos e fortes do quê conseguiria prever. E neste momento caso lhe ocorresse o fato de você fazer a mim uma pergunta simples, talvez não soubesse como responder, pois estou há séculos a procura de algo, uma identidade, uma marca registrada, uma frase, uma palavra nunca dita, algo único que não fosse instabilidade e a impulsividade. Ontem vasculhei dentro de uma garrafa de Martini e hoje a cada cigarro acesso tentava recuperar algo ou simplesmente encontrar alguma coisa que preenchesse o que não sinto e como sempre gritei aos sete ventos ao invés de calar-me e nem minha própria voz retornou. Sou movido pelas sensações o cheiro, o ódio, o amor, a felicidade ou um simples requebrar de um quadril feminino, séculos atrás tinha algo a falar algo que pudesse compartilhar e escrever, neste momento estou com uma sensação que não consigo definir e talvez a única palavra que se encaixe na atual situação seria “nada”, entretanto nada é algo. Não consigo me lembrar durante os séculos vividos um sentimento como esse, sem idéias ou ideais, sem inspiração ou objetivos, sem querer algo. Ontem me considerava um covarde pelo fato simples de não fazer o meu querer e sempre pensar em outros, como um egoísta, me considerava fisicamente imperfeito e sem criatividade, sem assunto, palavras ou algo para falar, outrora tinha alguns sonhos e agora me coração se soltou e tudo se foi e há o vazio como um buraco dentro da minha alma. Não consigo e talvez não consiga preencher esse abismo, pois em diversas vezes tentei ocupá-lo com amores, sexo, álcool, cigarros e outros sentimentos, mas até agora nada foi o suficiente, entediava-me facilmente, brigava comigo e neste momento não sinto prazer em ouvir uma canção ou em pensar em alguma amada. Simplesmente tudo se foi tinha a inveja e a ira como uma luz no fim do túnel, tinha a tristeza e a alegria ao meu lado, mas neste momento tudo sumiu, não sei definir o que sou e nem o fui, talvez devido as minhas inúmeras atuações sobre o palco, lembro no dia em que nasci e da noite em que morri, entretanto no momento não sinto a divina luz sobre mim, apenas não sinto, contudo isso é sentir, mas para hoje se torna algo indefinido é um objeto estranho. Definitivamente não consigo encontrar palavras para descrever como é entrar nesse estado de inércia, não sei expressar esse sentimento ou o não sentimento e isso faz com que eu beire a insanidade e esse deve ser o estado final de um ator. Isso pode ser minha segunda chance, o algo que todos querem, o ceifador está abrindo a porta ampla para que eu possa passar, esse momento de calmaria pode ser o recomeço que sempre quis e pedi, Será? Talvez ao meu lado esteja o apanhador de sonhos ou apenas estou criando uma nova ilusão sobre meus sentimentos encobertos. Onde estão meus sentimentos maléficos, onde se encontra a minha melancolia, quando acaba esse deserto? Como encontrarei as minhas Colts em meus coldres ? apenas estou com as balas. Será que mereço uma nova chance, o perdão e o extermínio dos meus sentimentos que me acompanharam não os jogue do penhasco, pois pularei atrás. Encontrei e observei os olhos dos anjos, poderei subir nesse palco novamente sem demonstrar afeto, poderei ser quem esqueci, posso não correr pelo deserto e não encontrar meu sofrimento afastou-me tanto e não os reconheço mais. Estou desarmado como uma criança sem o seu brinquedo favorito. Caso você perguntasse algo simples não saberia responder, meus sentimentos fogem pelo deserto e estão tentando-me outra vez.

Gilmar Elric
Enviado por Gilmar Elric em 08/09/2010
Código do texto: T2486255
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